A candidata derrotada do PMDB, Marta Suplicy, reclamou nos bastidores da falta de apoio do governo Temer à sua campanha, mas, em público, disse que sabia das pedras no seu caminho, quando saiu do PT, e pagou o preço da transição. “Não me arrependo de nada. Bola pra frente”, afirmou a senadora, do domingo, 2, em almoço com a família, amigos e assessores.

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O discurso assertivo de Marta destoa, porém, do sentimento de quem trabalhou duro para depois “morrer na praia”. O que mais a magoou foi ter ficado na quarta posição, numa corrida que chegou a liderar. “Enfrentamos duas máquinas: a do governo municipal e a do governo do Estado”, disse ela, que foi prefeita de São Paulo, de 2001 a 2004, eleita pelo PT.

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O mau desempenho da senadora é também uma derrota do presidente Michel Temer, que fica mais dependente do PSDB de João Doria para aprovar o ajuste fiscal no Congresso. Embora o Palácio do Planalto queira se descolar do fracasso de Marta, a leitura política é a de que Temer, fiador da entrada da ex-petista no PMDB, sai perdendo nesse jogo.

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O resultado da eleição na capital paulista sempre foi considerado importante para medir a força dos partidos na disputa nacional. Nesse cenário, Temer e o PMDB ficam algumas casas atrás no posicionamento para a eleição presidencial de 2018, que terá o PSDB do governador Geraldo Alckmin fortalecido.

Telefonema

Temer telefonou no domingo, 2, para Marta e Doria. Cumprimentou o prefeito eleito, mas não conseguiu conversar com a senadora. O presidente disse a um amigo que ela não atendeu a ligação.

A desidratação de Marta na reta final produziu atritos com o PMDB, seu novo partido, e com o PSD do vice, Andrea Matarazzo. Em conversas reservadas, auxiliares da senadora dizem que o Planalto a abandonou, que ela enfrentou o ônus da agenda impopular de reformas proposta pelo governo e também de ter no palanque o ex-prefeito Gilberto Kassab, hoje ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, mal avaliado nas pesquisas.

O grupo de Marta também afirma que pesos pesados do PMDB flertavam com Doria. Aliados de Matarazzo, por sua vez, apontam vários erros na campanha. Argumentam que Marta investiu muito no eleitor da periferia e deixou o candidato a vice quase como figura decorativa. Acham, ainda, que faltou à senadora uma estratégia mais agressiva para desconstruir Doria.

O presidente do PMDB paulistano, José Yunes, admite que a candidata teve dificuldade para explicar que não era mais do PT, partido de sua trajetória política até o ano passado.

“Talvez ela também tenha pago por erros de comunicação do governo em relação às reformas e ao ajuste fiscal, que são importantes para o País, mas infelizmente não foram bem esclarecidos”, disse Yunes, que é assessor especial de Temer. “Além disso, a subida do Fernando Haddad nas pesquisas fez com que o eleitorado da Marta, que também queria derrotar o PT, migrasse para o Doria quando viu que ela não tinha chance.”

‘Muito mais’

Depois de votar no domingo, 2, no Colégio Madre Alix, no Jardim Paulistano, zona sul, Marta foi para casa e passou o dia com a família. À noite, divulgou uma nota, na qual agradece o apoio recebido e diz continuar disposta a fazer “muito mais” por São Paulo.

Para o cientista político Gaudêncio Torquato, amigo de Temer, a senadora não tem motivo para culpar o governo por sua derrota. “Marta começou muito bem, mas, à medida em que o tempo foi passando, sua identidade foi desaparecendo e ela acabou ‘canibalizada’ de um lado por Doria e, de outro, por Haddad e Russomanno.”

Na sua avaliação, faltou à candidata explorar o número 15, do PMDB, o que a fez perder votos dos dois lados. Para os petistas, ela virou uma “golpista” que traiu seu partido e votou no impeachment de Dilma Rousseff. Para os críticos do PT, Marta nunca deixará de ser de esquerda.

“Isso sem contar que ela cometeu o grande erro de entrar na onda do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, e combater a reforma trabalhista, quando o que foi divulgado (por ele) estava furado. Então, ficou a imagem da candidata do PMDB contra o governo, uma coisa esquisita”, comentou Torquato, numa referência ao fato de Marta dizer, em seu programa de TV, ser “totalmente contra” a jornada de 12 horas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.