O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, apresentou, na tarde de hoje, no Pelourinho, em Salvador (BA), seu programa de governo para a área de segurança pública. O plano tem sete tópicos, entre eles a já anunciada criação do Ministério da Segurança. “Não vamos aumentar o número de ministérios. Pelo contrário, vamos diminuir, porque o Brasil tem ministérios demais. Mas o Ministério da Segurança se impõe, pela situação pela qual passa o País”, justificou. “Segurança e saúde são os dois principais problemas do Brasil, hoje.”
Entre os itens citados, estão a integração nacional dos cadastros de pessoas e veículos, a criação de uma força policial permanente para cobrir fronteiras e prevenir crimes ambientais, a informatização de todos os sistemas policiais e a criação de um sistema de apoio jurídico e psicológico às vítimas de crimes. “Temos, no Brasil, 45 mil mortes violentas por ano, é praticamente um Iraque por ano”, disse. “Então, são pelo menos 250 mil pessoas diretamente afetadas, que precisam de ajuda, dependendo do tamanho da família. E isso não existe no País.”
Serra não quis adiantar nomes de possíveis ministros – “dá um azar danado falar em nomes antes de ser eleito”, contou -, mas disse que a nova pasta não pode ser ocupada por políticos. “É muito raro encontrar um político apto para exercer o comando de um ministério como esse. Político pratica a conciliação, não o confronto. Então, o ministério precisa ser comandado por gente da segurança.”
O presidenciável aproveitou o anúncio para fazer uma série de críticas à administração da segurança pública pelo atual governo. “O orçamento do governo federal destinado à segurança, por exemplo, é de apenas 0,5% do orçamento nacional. Isso reflete a falta de intenção efetiva do governo de lidar com o problema”, afirmou.
Serra também atacou a política nacional de presídios. “O governo federal tinha anunciado maravilhas, mas fez apenas dois presídios. Há uma carência de 200 mil vagas.” Além disso, o ex-governador paulista criticou as relações do governo Lula com países que, supostamente, são responsáveis pela produção de drogas e armas que entram no País ilegalmente. “O governo deveria exercer pressão diplomática sobre a Bolívia, ou sobre a Colômbia, ou sobre o Peru, para inibir o contrabando”, avaliou. “Isso é normal na relação entre os países.”
Bahia
Foi estratégica a escolha pela Bahia para o lançamento do plano para a segurança pública. Em Salvador, Serra teve dois objetivos: falar sobre um tema que é apontado como o principal ponto fraco da atual administração estadual, a cargo de Jaques Wagner (PT), candidato à reeleição, e tentar mostrar sua proximidade com o Estado, que abriga o quarto maior colégio eleitoral do País – foi a sétima visita de Serra à Bahia este ano, a terceira nos últimos 30 dias.
Segundo o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), que sugeriu Salvador para o lançamento do programa de governo, a escolha se baseou no fato de a Bahia ter registrado um forte aumento dos índices de homicídios nos últimos quatro anos – período da administração petista. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, entre 2006 e 2009, o número de homicídios no Estado cresceu 49,6%. O tema é o principal foco de críticas do candidato apoiado pelo PSDB no Estado, o ex-governador Paulo Souto (DEM), contra Wagner. “Estamos em situação de descontrole, com bandos agindo no interior como no tempo do cangaço, deixando cidades aterrorizadas.”
Uma das coordenadoras da campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT) na Bahia, a prefeita de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, Moema Gramacho (PT), minimiza o impacto causado pela presença constante de Serra na Bahia. “Ele tem pouca relação com o Estado e está tentando compensar isso agora”, alegou. “A Dilma não precisa dessa ofensiva.”
Ministérios em campanha
Serra disse que ministérios não deveriam estar engajados em campanha, mas evitou entrar em polêmicas sobre a força-tarefa montada nos ministérios para rebater os dados apresentados pelo tucano em entrevista ao Jornal Nacional de quarta-feira.
“Não vou debater com o ministério do (presidente) Lula, minha disputa eleitoral não é com o ministério do Lula, eu debato com os candidatos que estão aí postos”, afirmou. “Mesmo que eles estejam engajados na campanha – e não deveria ser assim. Meu foco são os candidatos.”
Serra aproveitou para acusar outros candidatos de cópia de programas de governo de sua campanha. “Falei que ia fazer o (programa) mãe brasileira, baseado na experiência do mãe paulistana, que fiz quando fui prefeito (de São Paulo), e agora outra candidata apresentou um projeto chamado cegonha, acho”, disse. “Não acho errado copiar, até porque governar é mais tirar do papel do que ter a ideia – e o próprio mãe paulistana foi baseado em um programa da prefeitura de Curitiba, o mãe curitibana, que deu certo -, mas é bom que se dê o crédito.”