Mulheres sem-terra ocupam secretaria em Pernambuco

Cerca de 400 mulheres ligadas à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocuparam hoje, por duas horas, a Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária de Pernambuco, na zona oeste de Recife, dentro das atividades de comemoração do Dia Internacional da Mulher. Elas invadiram o gabinete do secretário Angelo Ferreira, que estava em uma reunião, e entregaram um texto em que denunciam a paralisação da reforma agrária em Pernambuco.

“Nenhuma nova área foi desapropriada e nenhuma nova família foi assentada nos últimos dois anos”, afirma o documento que critica o estímulo ao agronegócio e ao “modelo capitalista concentrador de poder, terras e riqueza”. As mulheres reivindicam a desapropriação, por interesse social, de empresas e latifúndios que sejam devedores do Estado. “Vamos entregar a pauta ao governador”, prometeu o secretário, que encarou com naturalidade a ocupação. “Marcou o dia da mulher”.

À tarde, em um palanque montado em frente ao Palácio do Governo, na Praça da República, com a presença de cerca de 1,5 mil mulheres, que assistiram ao evento sentadas em cadeiras, o governador Eduardo Campos (PSB) recebeu muitos aplausos e um plano de políticas públicas para as trabalhadoras rurais.

O plano foi elaborado em dois anos, com a participação de movimentos de luta pela terra – CPT, MST e Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetape) entre eles – sob a coordenação da Secretaria Estadual da Mulher. Inclui ações visando a geração de renda, educação pública para o campo, preservação do meio ambiente e enfrentamento à violência contra a mulher, entre outros pontos. O governador prometeu levar o plano a todas as secretarias estaduais, para início de discussão, em uma reunião no dia 22.

“Esperamos que o plano não fique na gaveta enquanto o governo continua a fortalecer o agronegócio e os grandes projetos de mineração”, afirmou a coordenadora regional da CPT, Marluce Melo, durante o evento que teve a entrega de placas comemorativas a mulheres sindicalistas. As mulheres – a grande maioria da Fetape – chegaram em marcha que uniu vários movimentos sociais urbanos.

Representante do Fórum de Mulheres, Paula Viana, destacou a defesa do Plano Nacional de Direitos Humanos, que inclui o direito ao aborto legal e seguro e o combate à sexualização excessiva da mulher na mídia.

Ocupação

Na Fazenda Uberaba, no município de Bonito, no agreste, reocupada pela quinta vez ontem, sob a liderança de mulheres do MST, elas deixaram o local pela manhã para participar da marcha na capital, retornando no final da tarde. Filhos e maridos garantiram a ocupação da área.

O administrador, Felipe Galindo Souto, neto da proprietária, entrou hoje com pedido de reintegração de posse na Justiça local. Ele afirma que a área é produtiva e não se enquadra nos requisitos exigidos para reforma agrária.

O MST discorda e quer que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) tome uma posição. O superintendente regional está viajando e nenhuma informação sobre o assunto foi dada pelo órgão à reportagem.

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