Os delatores do grupo J&F Florisvaldo Caetano de Oliveira e Ricardo Saud relataram aos investigadores da Procuradoria-Geral da República a entrega de R$ 1 milhão em espécie para João Baptista Lima Filho, amigo pessoal do presidente Michel Temer. A entrega dos valores foi combinada, diz Saud, entre Temer e ele e executada por Florisvaldo.
O pagamento era parte dos R$ 15 milhões que Joesley Batista havia se comprometido a pagar para Michel Temer na campanha de 2014. Segundo Saud, o R$ 1 milhão foi colocado por Temer no “bolso”. “Eu já vi o cara pegar o dinheiro da campanha e gastar na campanha. Agora, ganhar um dinheiro do PT e guardar pra ele no bolso dele, eu acho muito difícil”, afirmou ele.
Ainda no entendimento do delator, “o Michel Temer fez uma coisa até muito deselegante”. Ele narra: “porque nessa eleição só vi dois caras roubar deles mesmos. Um foi o Kassab, o outro o Temer. O Temer me deu um papelzinho, e falou: ‘Ó, Ricardo, tem um milhão, que quero que você entregue em dinheiro nesse endereço aqui’.”
Apontado como entregar de dinheiro para políticos da JBS, Florisvaldo Oliveira, por sua vez, detalhou aos investigadores que o endereço citado por Saud para a entrega era a sede da empresa do amigo de Temer, a Argeplan. A empresa faz parte de um consórcio que ganhou concorrência para executar serviços relacionados à usina de Angra 3 – cujas obras são investigadas na Operação Lava Jato.
“(..)Por determinação de Ricardo Saud, o depoente entregou 1 milhão de reais no seguinte endereço: Rua Juatuba, 68, Vila Madalena, São Paulo, num escritório cuja titularidade o depoente desconhecia. Que o escritório era conhecido como sendo de alguém ligado a Michel Temer”, afirmou o delator em seu depoimento.
Lava Jato. A empresa finlandesa AF foi a vencedora de um contrato de R$ 162 milhões na Eletronuclear e, por exigência brasileira, subcontratou duas empresas locais: a Engevix e a AF Brasil – da qual a Argeplan faz parte. Lima era gestor do contrato com a Eletronuclear, pela parte da Argeplan. O contrato foi assinado em 2012 para serviços de eletromecânica. O Estado revelou, em maio de 2016, que a Lava Jato investiga se houve negociação de propina nesse negócio. As irregularidades envolvendo as obras da usina foram delatadas por executivos da UTC, da Andrade Gutierrez, da Camargo Corrêa e, recentemente, da Odebrecht.
Baptista Lima foi citado na tentativa de delação do sócio da Engevix, José Antunes Sobrinho Filho, como alguém que se apresentava como um interlocutor do então vice-presidente da República. O caso foi revelado pela revista Época, há um ano. Sobrinho Filho desistiu da delação depois da vinda à tona das revelações que ele prometia fazer.
Lima já foi assessor de Temer e frequenta a residência do presidente da República. Os dois se encontraram na casa do peemedebista em São Paulo, por exemplo, dias após a divulgação das delações premiadas de executivos da Odebrecht. A sede da empresa de arquitetura da qual Lima é sócio, em São Paulo, foi um dos alvos de busca na operação Patmos, deflagrada na quinta-feira, 18.