Embora o governo faça uma avaliação positiva da aprovação na Câmara das duas Medidas Provisórias do ajuste fiscal, as modificações promovidas pelos congressistas podem render uma perda de economia de quase R$ 4 bilhões em 2015. É o que apontam cálculos feitos pelo próprio governo e pela consultoria de Orçamento da Câmara.

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Inicialmente, o governo esperava economizar aproximadamente R$ 18 bilhões neste ano com as medidas, mas o valor poderá cair para algo em torno de R$ 14 bilhões com as mudanças. A primeira Medida Provisória que foi votada, na semana passada, foi a 665, que tornou mais difícil o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial. Ela continha o grosso da economia que o governo planejava realizar com as MPs trabalhistas, cerca de R$ 16 bilhões só em 2015. Mas o texto que saiu da Câmara reduziu essa poupança entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões, segundo dados compilados pelo governo e obtidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

Para vencer as resistências à MP no Plenário, os parlamentares reduziram de 18 para 12 meses o tempo de carência defendido pelo governo para que uma pessoa receba o seguro-desemprego.

Também houve flexibilização no abono salarial. A equipe econômica queria que ele fosse pago, de forma proporcional, para quem tivesse trabalhado ao menos seis meses corridos, mas os parlamentares reduziram essa exigência para três meses.

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Nesta semana, foi a vez de os deputados debaterem a MP 664, que modifica regras de acesso à pensão por morte e ao auxílio-doença. Antes mesmo de ser votado, no entanto, o texto relatado pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP) já continha recuos que neste ano impunham perdas de R$ 900 milhões em relação ao que a equipe econômica esperava poupar. O levantamento foi feito por Leonardo Rolim, consultor de Orçamento da Câmara.

A MP original acabava com a concessão da pensão por morte integral para os participantes do Regime Geral da Previdência. O valor ficaria limitado a 50% da aposentadoria do segurado falecido, acrescido por até cinco cotas de 10% para cada um dos seus dependentes. Mas esse artigo foi suprimido por Zarattini.

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Além do mais, o petista removeu de seu relatório um item da MP original que impedia a transferência das cotas dos dependentes que perdessem esse status para o beneficiário principal. Hoje, por exemplo, quando atingem a maioridade, filhos de segurados falecidos passam sua parcela da pensão à viúva, algo que a equipe econômica queria barrar. Outro ponto que prejudicou a economia desejada pelo Planalto foi a flexibilização do tempo de carência exigido para o acesso ao benefício.

“Acredito que a MP era a maior reforma da Previdência desde a reforma do (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso, mas as mudanças da Câmara reduziram muito o impacto”, avalia Leonardo Rolim. “Nem tanto no curto prazo, mas principalmente no longo (prazo), porque quanto mais o tempo passa, maior é o impacto nas pensões. Em 35 anos, a perda (com as alterações dos deputados) será de 89% da economia prevista pelo governo”, conclui.

Os cálculos do consultor só se referem ao Regime Geral da Previdência e não levam em conta uma derrota de última hora sofrida pelo governo na votação da última quarta-feira (13), quando os deputados anularam uma alteração no pagamento do auxílio-doença que constava na MP original.

Perdas

Além das perdas já registradas, a presidente Dilma Rousseff ainda precisará encontrar uma solução para desarmar a “bomba fiscal” criada com a inclusão, na Medida Provisória 664, de uma emenda que criou uma alternativa ao fator previdenciário – fórmula que reduz o valor das pensões e que tem por objetivo desestimular aposentadorias precoces.

Também deve entrar na conta dos “prejuízos” acumulados até agora pelo governo na tramitação do ajuste fiscal o aumento da alíquota da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamentos. A equipe econômica pretendia reduzir em R$ 5,35 bilhões o gasto do Tesouro Nacional com a desoneração da folha, mas essa poupança não será mais possível porque a proposta teve de ser reenviada na forma de um projeto de lei – e não em Medida Provisória, como queria o governo – por conta de um conflito com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A proposta ainda não avançou no Congresso Nacional e o governo já negocia dividir o aumento em duas vezes para tentar algum ganho ainda neste ano.

Tudo isso será levado em consideração pela equipe econômica ao definir o contingenciamento do Orçamento deste ano. No domingo, a presidente Dilma Rousseff se reúne com ministros da área para discutir o corte.