Em convenção marcada para sexta-feira, dia 31, em Brasília, o ex-deputado Bruno Araújo será eleito para a presidência do PSDB, em substituição ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Concorrendo com chapa única, ele tem o apoio do governador João Doria. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Araújo disse que o partido vai “mudar o comportamento de hesitação que teve em muitos momentos de sua história”. Mas adotou discurso conciliador sobre a possibilidade de a sigla mudar de nome ou promover uma “faxina ética”, bandeiras de Doria. “O PSDB não tem dono. Se engana quem acha que eu vá servir ao projeto de A ou B.” Negou ainda que o PSDB fará parte do governo.

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O sr. defende a “refundação” do PSDB, com guinada à direita e a mudança de nome? Uma pesquisa foi encomendada para avaliar essa possibilidade.

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O PSDB tem de mudar um comportamento de hesitação que teve em muitos momentos de sua história. Embora isso possa ser discutido dentro do partido, não vejo mudança de nome, cor ou mascote como solução. Não é transformando a Venezuela em República Democrática da Venezuela que vai mudar a minha percepção sobre o que acontece no país. É mais importante o PSDB abandonar as histórias de hesitação.

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Quais foram essas hesitações?

O PSDB hesitou em defender o Fernando Henrique Cardoso, o processo de privatização e outros momentos da sociedade. A bancada do partido na Câmara foi a protagonista do impeachment (de Dilma Rousseff), mas o PSDB enquanto partido abraçou o tema aos 45 minutos do segundo tempo.

Defende a fusão do PSDB com outros partidos?

O fim das coligações pode levar a uma reflexão futura sobre isso, mas nesse momento não enxergo necessidade ou condições políticas para tratar de fusões, mesmo com aliados históricos. Não há motivo para entrar nessa temática antes da avaliação das eleições municipais.

O PSDB será mais conservador no discursos em temas como armas e Escola sem Partido?

Em relação à pauta de costumes, é preciso respeitar o momento da sociedade, mas cada um desses temas precisa ser discutido no conjunto do partido.

Vários quadros do PSDB estão no governo em cargos de segundo escalão. Têm o aval do partido?

O PSDB não faz e não fará parte do governo. O partido tem vários quadros técnicos colaborando com o País. O tema mais importante do Brasil hoje foi escrito por um tucano, o deputado Rogério Marinho. (O projeto de reforma da Previdência) foi escrito e relatado por um tucano.

Como avalia o desempenho do presidente Jair Bolsonaro?

O governo tem bons quadros na economia e na área de infraestrutura, mas o presidente não é afeito ao diálogo. Entre as funções do presidente da República está a missão de ser um pacificador. O presidente parece não ser vocacionado para construir essa pacificação.

Há um debate no PSDB sobre a expulsão de quadros com problemas na Justiça ou por “traição” partidária nas eleições. O novo código de ética será retroativo para incluir casos como os de Aécio Neves e Beto Richa?

Política se constrói na base do diálogo e do bom senso. O ex-governador Eduardo Azeredo se desfiliou. Isso foi uma atitude de bom senso. Sempre defendi o diálogo.

Mas concretamente: o novo código será retroativo?

Depende dos atos e agentes que vão conduzir o processo.

O grupo do governador João Doria defende uma “faxina ética” que passe pela expulsão de Aécio Neves. Defende isso?

O PSDB não tem dono. É construído de forma coletiva. A opinião dos filiados e, sobretudo, de protagonistas importantes como o governador Doria têm peso relevante, mas precisamos construir posições de forma coletiva.

Existem tucanos insatisfeitos com a ascensão de Doria no PSDB. Quadros como Alberto Goldman dizem que ele quer tomar conta do partido para disputar a Presidência em 2020. O governador é o grande líder do partido na prática?

O PSDB não tem dono. Se engana quem acha que eu vá servir ao projeto de A ou B. O governador de São Paulo sempre será um ativo relevante. No caso de Doria, isso tomou mais tamanho porque é alguém extremamente afeito ao trabalho. Mas o PSDB tem outros quadros importantes. Posso citar o governador do Rio Grande do Sul ou o senador Tasso Jereissati.

Em 2018, o PSDB teve seu pior resultado eleitoral. O partido errou na estratégia?

O PSDB jamais devia ter deixado de exercer o protagonismo da polarização com o PT. Na minha opinião e de muitos do partido, foi uma decisão equivocada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.