Rio Bonito do Iguaçu – Cerca de mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram ontem a Fazenda Laranjeiras, em Rio Bonito do Iguaçu, a 390 quilômetros de Curitiba, no Sudoeste do Estado. A fazenda, de 550 alqueires, tem 13 proprietários, entre eles o prefeito do município, Cezar Augusto Bovino (PMDB), dono de 34 alqueires.
O prefeito disse que a maior área tem 58 alqueires e é de seu irmão, local onde estão os sem-terra. Os proprietários, que já tinham interdito proibitório expedido em 3 de fevereiro, conseguiram ordem de reintegração de posse na Justiça na tarde de ontem.
Segundo a Polícia Militar, a invasão aconteceu por volta das 7 horas. De acordo com o prefeito, cinco pessoas, entre elas uma criança de 3 anos, sobrinha dele, e o ex-prefeito Leonel Schmidt foram impedidas de deixar a fazenda até por volta do meio-dia. O tenente Gilmar Santana, comandante do destacamento no local, disse que não houve qualquer confronto, mas confirmou que as cinco pessoas haviam sido retidas na área. Segundo Santana, há 2 mil famílias de sem-terra acampadas na BR-158, que liga Rio Bonito do Iguaçu a Laranjeiras do Sul.
Anteontem à noite foi preso no acampamento Francisco de Assis Moretti, por porte ilegal de arma. Ele é chamado de agitador pela polícia, vivendo no acampamento apesar de ser dono de duas funerárias na região. Bovino disse que a invasão aconteceu unicamente pelo fato de ele ser o prefeito. “É mais por questão política”, afirmou.
O assentamento na Fazenda Araupel, com 1.641 famílias, o maior da América Latina, apoiava outro candidato a prefeito. “Depois que ganhei eles sempre ameaçam”, denunciou. Bovino afirmou ter entrado em contato com o governador Roberto Requião (PMDB) e com vários secretários. “O governador só esperava a reintegração de posse para tomar uma atitude”, disse.
Anteontem, Requião disse que estava com o MST “entalado na garganta”. Segundo ele, recentes invasões de terra estavam “passando um pouco do razoável”. “Mais cedo ou mais tarde, se as coisas continuarem desse jeito, vamos ter que fazer despejos, o que será uma tragédia”, afirmou. Requião se declarou o único governador que defende e apóia o MST, mas reclamou não entender “porque o movimento se comprometeu a dar uma trégua mas não deixou passar uma semana e já está invadindo novamente”.
O presidente da Comissão Especial de Mediação de Questões Agrárias, o secretário do Trabalho e Promoção Social, Padre Roque Zimmermann, disse que a trégua não foi acertada com os sem-terra. “Foi solicitado de um lado, mas negado do outro”, afirmou. Mas ele pediu uma trégua para “produzir soluções”. “O acirramento dos ânimos só prejudicará o próprio MST”, disse. “Nós estamos com boas perspectivas, mas nada é rápido.” Desde o início do ano aconteceram cerca de 30 invasões de propriedades rurais no Paraná, quase todas com reintegração de posse expedida pela Justiça.
Requião vai mandar a PM em cima
O Palácio Iguaçu divulgou nota na noite de ontem dizendo que espera apenas receber o pedido de reintegração da fazenda ocupada, para mandar a Polícia Militar para o local, cumprir a ordem judicial. A nota confirma a informação do prefeito de Rio Bonito do Sul, Celso Augusto Bovino. No entanto, esta área não foi a única pertencente a político, invadida ontem pelo MST no País. Em Itaberaí, Goiás, cerca de 120 famílias de sem-terra invadiram, na madrugada, a Fazenda Floresta, arrendada para a Usina Rio Negro, de álcool e açúcar, de propriedade do deputado federal Roberto Balestra (PP).
Os sem-terra atearam fogo a um canavial e expulsaram os funcionários da fazenda. Antes de sair os empregados apagaram os focos de fogo. Os sem-terra pertencem ao Acampamento Dom Helder Câmara, na BR-070, entre os municípios de Taquaral e Itaguari. Segundo a Polícia Militar, as 120 famílias saíram do acampamento para entrar na fazenda, mas não mudaram para ela. As terras da Fazenda Floresta, que já foi invadida outras vezes, estão no municípios de Itaberaí, Taquaral e Itaguari. A PM informou que a invasão foi pacífica e, quando sair a decisão judicial, vai negociar a desocupação.
