O trecho urbano da Rodovia Transamazônica em Marabá, no sudeste do Pará, foi bloqueado na manhã de hoje por 1.500 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), que cobram o assentamento de oito mil famílias, assistência técnica nos lotes já existentes e emissão de licenças ambientais. Depois de negociação com uma juíza e uma promotora, e a presença no local da Polícia Militar (PM), os manifestantes liberaram a estrada no começo da tarde.
Os procuradores da República em Marabá, Tiago Modesto Rabelo e André Casagrande Raupp, ingressaram com ação na Justiça Federal, pedindo a desocupação das vias de acesso aos órgãos públicos na área onde está localizada a superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), invadido e ocupado por cinco mil agricultores sem terra desde a semana passada.
Rabelo e Raupp também cobram a desobstrução de estacionamentos públicos e das calçadas para permitir o acesso da população aos prédios da Justiça Federal, INSS e outros órgãos cujos caminhos foram ocupados pelos sem terra. O juiz federal Carlos Henrique Borlido Haddad iria despachar o pedido dos procuradores, mas preferiu aguardar a negociação realizada pela juíza da Vara Agrária, Cláudia Favacho Moura, e pela promotora Francisca Suênia de Sá, que estavam à frente da negociação com as lideranças do MST e da Fetagri.
O MST, porém, informou que não pretende sair do prédio do Incra até que seja negociada, com autoridades de Brasília, a pauta de reivindicações do movimento. A juíza, por telefone, confirmou para a próxima segunda-feira, em Brasília, uma reunião entre líderes do MST e da Fetagri e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Bandeira Florence. Os dirigentes das duas entidades pedem também as presenças na reunião do secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
“Estamos cansados da enrolação do Incra com os trabalhadores rurais. Ninguém vai desocupar a sede aqui em Marabá enquanto nossas reivindicações não forem atendidas pelo governo federal”, afirmou Tito Moura, um dos coordenadores do MST na região. Para a direção do Incra, a pauta dos movimentos sociais foi quase toda atendida e não há mais razão para o prédio continuar ocupado.
Segundo o superintendente do órgão em Marabá, Edson Luiz Bonetti, o orçamento triplicou para que as reivindicações fossem atendidas, principalmente com recursos para manutenção de estradas, assistência técnica e serviços de topografia nos assentamentos.
Moura rebateu, afirmando que nada ficou decidido na reunião com o Incra, porque os assentamentos que serão criados ainda estão na dependência de desapropriações, da desocupação de terras públicas e da retomada de lotes que estão em poder de grileiros. O líder do MST ameaçou “botar oito mil sem terra” na sede do Incra se a reunião em Brasília com o ministro não contemplar integralmente a extensa pauta do movimento.