MPF denuncia doleiro líder de organização criminosa

O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou criminalmente o empresário uruguaio Ricardo José Fontana Allende, apontado como líder de organização criminosa formada por seis núcleos de doleiros que agiam no eixo Brasil-Uruguai para evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O grupo foi desarticulado pela Operação Harina, que a Polícia Federal deflagrou no dia 28 de agosto.

A PF suspeita que Allende seja o verdadeiro proprietário do restaurante El Tranvía, palco principal da Operação Satiagraha. No local, supostos emissários de Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, teriam tentado subornar com US$ 1 milhão o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves, da PF, para que o banqueiro e seus familiares fossem excluídos da investigação. O episódio valeu uma condenação a Dantas em primeira instância.

A denúncia está sendo analisada pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal. Ele estuda a possibilidade de decretar o sequestro do restaurante. A PF suspeita que o El Tranvía estaria sendo usado para operações de lavagem de dinheiro ilícito. A direção do restaurante não se manifestou.

A PF apurou que Allende mantém parte de seu patrimônio em nome de terceiros. O restaurante, por exemplo, teria sido registrado por um “laranja”. O empresário está foragido.

São também acusados pela Procuradoria da República o argentino Federico Hernan Las Heras e mais 14 envolvidos. Os doleiros dividiam-se em seis grupos. Todos os citados estão com a prisão decretada.

“A movimentação de recursos incompatíveis com a ocupação/atividade e a renda declarada por pessoas físicas e jurídicas, ocultação de bens em nome de terceiros, entre outros fatores, caracteriza a organização criminosa”, afirma a procuradora da República Karen Louise Jeanette Kahn, autora da denúncia. Ela disse estar impressionada com o grau de articulação e o poderio do grupo de doleiros.

Segundo a denúncia, Allende chefiava a organização. Interceptação telefônica da PF, a partir de outubro, indica que ele usava como fachada a Expo Brasil Passagens e Turismo Ltda. “para camuflar atividades de câmbio ilegal e transferências clandestinas ao exterior em favor de clientes brasileiros”.

A PF pegou Allende em conversa com a consulesa do Uruguai em São Paulo, Brigida de Vera, que negocia a remessa de US$ 28 mil para Montevidéu. O diálogo foi gravado em março. Allende diz à diplomata que a transação “não é oficial”. Questionada sobre o caso, Brigida explicou que a transferência foi feita regularmente por instituição financeira.

A procuradoria sustenta que Allende mantinha sob suas ordens cinco intermediários: Gustavo Alfredo Orsi, o “Júnior”, Fabio Andres Guerra Flora, Mário dos Santos Casallechio, Renata Soares de Souza Schimdell e Michel da Cunha Reis. Segundo a denúncia, eles eram encarregados da concretização das operações, virtualmente ou por telefone. Allende possui uma offshore em Montevidéu.

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