Insatisfeito com a falta de prestação de contas da arrecadação de propinas, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (ex-DEM), teria dado pessoalmente uma planilha ao ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa com a lista das companhias que prestavam serviço ao governo e o incumbido, a partir daquele momento, de operar a cobrança extra a empresas de informática. O episódio, que teria ocorrido em meados de 2007, no “Buritinga” – situado na cidade satélite de Taguatinga, de onde Arruda despacha -, foi relatado por Barbosa ao Ministério Público Federal (MPF), no último dia 9, segundo inquérito disponibilizado hoje na internet pelo portal IG.
“O declarante afirma que o governador Arruda somente chamou o declarante para operar a arrecadação de propina dessas empresas porque as pessoas que estavam até aquele momento encarregadas por Arruda de fazer a arrecadação não estavam prestando contas a ele”, diz o documento. A ligação direta do governador com planilhas referentes ao suposto esquema de corrupção é mais um elo do caso que é conhecido como “mensalão do DEM” e que levou Arruda a se desligar do partido no início do mês, antes da realização de reunião da legenda convocada para a sua expulsão.
De acordo com as declarações de Barbosa contidas no documento, Arruda teria mostrado a ele uma planilha confeccionada pelo então corregedor-geral do DF Roberto Giffoni a pedido do próprio governador. Essa planilha traria a relação do volume de pagamentos feitos pelo governo do DF a todas as empresas que prestavam serviço de informática. Nesta conversa, Arruda teria mostrado a Barbosa insatisfação por não ter recebido recursos desta área até o momento e “queria saber onde estava o dinheiro”.
Foi nesse encontro também, conforme o depoimento de Barbosa, que Arruda teria determinado que o ex-secretário recuperasse a arrecadação que não havia aparecido até aquele momento. “O declarante negou-se a recuperar a propina sobre os valores já pagos porque não era o encarregado de operar a arrecadação”, trouxe o depoimento. O posicionamento do ex-secretário teria causado uma reação de espanto por parte do governador: “Então eu vou ficar no prejuízo?”
Arruda teria começado a disparar, então, telefonemas a todos os seus secretários que receberiam os serviços informando a respeito do novo arrecadador. Barbosa descreveu ao MP que a indicação de seu nome sofreu algumas resistências. Mesmo assim, a coleta passou a ser realizada, ainda que “paulatinamente”. O ex-secretário voltou a dizer que uma exceção em seu trabalho de arrecadação teria sido em relação ao primeiro contrato de informática celebrado pelo atual governo, no valor de R$ 300 milhões, porque o acordo havia sido feito diretamente com Arruda.
Por intermédio da assessoria de Arruda, o advogado José Gerardo Grossi, que defende o governador, afirmou que as acusações de Durval Barbosa são “infundadas, irresponsáveis e caluniosas”. Arruda tem anunciado que vai processar o ex-secretário.