O sargento Cesar Rodrigues de Carvalho, que estava lotado no gabinete da governadora Yeda Crusius (PSDB) até a semana passada, foi preso na manhã de hoje em Porto Alegre após uma investigação do Ministério Público Estadual (MPE). Ele é acusado de utilizar o Sistema de Consultas Integradas do Estado para levantar informações de investigações policiais, de partidos políticos e de candidatos a deputado gaúchos, além de um ex-ministro e de um senador da República. O MPE informou que continuará a investigação, pois há indícios de que oficiais de dentro da Casa Militar estariam envolvidos no esquema.

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O sargento foi denunciado por um empresário ligado a bingos e caça-níqueis, de quem ele recolheria propina há dois anos. Segundo o promotor eleitoral Amilcar Macedo, que vem comandando as investigações, há cerca de três meses o empresário entrou em contato com o MPE para denunciar o sargento.

“Uma coisa é um assaltante entrar armado na tua loja para te assaltar, outra é quando ele vem com arma na cintura e brasão do Estado”, disse o dono de bingo. Ele informou que Carvalho se dirigia semanalmente à cidade de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, – utilizando carros oficiais do Estado – para receber a propina.

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Tudo indica que Carvalho faça parte de um esquema ilegal de coleta de informações contra desafetos e inimigos políticos. Os indícios levantados até agora dão conta de que o sargento agia muito bem amparado. Ao cobrar propina, falava que ia buscar o dinheiro dele e dos “chefes”.

Apesar de denúncias ao comando da Brigada Militar (BM, a Polícia Militar gaúcha), nunca foi repreendido e, ao saber das investigações do MPE, foi exonerado do cargo, mas, de acordo com o Diário Oficial de terça-feira, foi realocado para assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (SSP) no cargo de um coronel. O praça incorporou a função gratificada de um oficial.

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Segundo um oficial da Casa Militar do RS ouvido pelo MPE, depois de integrado ao gabinete da governadora, a ligação de Carvalho com empresários contraventores foi denunciada duas vezes pelo disque-denúncia. Informalmente, revelou o oficial, essa informação foi repassada ao comando da BM.

Acessos

A sensação de impunidade do sargento e sua sede de informação eram tamanhas que, em uma semana, ele chegou a acessar o Consultas Integradas 1,2 mil vezes. Além de ter predileção por um partido político, o sargento acessou dados de variados candidatos desta eleição no Estado, de um ex-ministro e de um senador. Não satisfeito, vasculhou a vida de um oficial chefe de inteligência do 5º Comando Aéreo Regional (Comar).

A liberdade em utilizar o banco de dados do Estado – Carvalho realizava acessos inclusive de casa, durante a madrugada – fez com que sua prisão fosse antecipada para hoje. Ele havia descoberto que uma equipe da inteligência da BM junto com uma do MPE estavam na sua cola e iniciou uma espécie de contraespionagem, prejudicando as apurações.

O Palácio Piratini foi procurado e informou que se pronunciaria por meio do secretário da Transparência e da Probidade Administrativa, Francisco Luçardo, e do Chefe da Casa Militar, Tenente Coronel Marco Antônio Oliveira Quevedo. Mas até o início da noite, nenhum dos dois responderam às ligações ou retornaram os contatos feitos pela reportagem.