O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, disse que os movimentos sociais irão fazer campanha contra a eleição do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), na disputa presidencial de outubro.
“No Brasil, vamos torcer para que o Serra não ganhe as eleições, porque Serra seria simbolicamente a volta do neoliberalismo clássico”, afirmou, em entrevista, enquanto abordava as recentes trocas de poder na América Latina.
Stedile disse ter identificado, entre os movimentos sociais, uma “unidade” contrária à eleição do tucano, “por tudo o que ele representa da volta do (ex-presidente) Fernando Henrique”, observou.
Para ele, uma eventual eleição de Serra representaria também a vitória do projeto norte-americano na região. Na visão do líder do MST, três projetos disputam supremacia na América Latina: um liderado pelos Estados Unidos, de “imperialismo”, outro da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) e um intermediário, de “integração capitalista”, que se coloca entre os dois.
Questionado sobre quem seria o candidato apoiado pelos movimentos sociais no Brasil, o líder do MST ponderou que seus participantes irão escolher de acordo com as simpatias individuais, mas lembrou que os grupos sempre votam em representantes da esquerda. Stedile disse que os movimentos irão apresentar plataformas comuns a todos os candidatos, a exemplo do que começaram a fazer as centrais sindicais.
O líder do MST participou hoje da primeira atividade do seminário “Dez anos depois: Desafios e propostas para um outro mundo possível”, que abriu os debates de avaliação do Fórum Social Mundial.
No evento, ele disse que há uma crise no sistema capitalista mundial e considerou que os Estados Unidos voltaram a usar “os movimentos bélicos e a tensão militar como uma porta de saída” dela. Para Stedile, o único setor da economia norte-americana que já saiu da crise é o complexo bélico-militar.
Stedile criticou a mídia, ao dizer que “os grandes meios de comunicação estão na mão do capital para falar mal de nós”, e pediu que o fórum seja um espaço anti-imperialista. Ele também fez uma autocrítica, ao dizer que há uma crise ideológica nos movimentos.
“Continuamos vivendo um período histórico adverso, de descenso do movimento de massas, de crise ideológica das esquerdas, com projetos políticos difusos, mas sobretudo sem capacidade de mobilizar as massas”, analisou. “Porque só com ideias, nem Gandhi nem Jesus Cristo mudaram o mundo.”