A Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas deve apresentar, no próximo mês, um relatório com nomes de 22 profissionais da comunicação mortos pela ditadura militar (1964-1985). Em encontro ontem (6) em Brasília, representantes do grupo receberam da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, um estudo de casos de perseguições e torturas para ser incluído nas pesquisas.
Entre os mortos pelo regime militar que serão citados no relatório do grupo criado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) está o paulista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, morto aos 22 anos, em 1971. A repressão divulgou na época que Merlino, repórter com passagem pela redação do antigo Jornal da Tarde, do Grupo Estado, cometeu suicídio.
Diferentemente da versão oficial, Merlino foi preso em Santos e levado para a sede do DOI-CODI, em São Paulo, chefiado pelo oficial do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra. Lá, o jornalista passou por sessões de tortura, pendurado pelas mãos e pelas pernas num ‘pau de arara’ – uma barra de ferro utilizada para imobilizar o preso nos momentos de choques elétricos, socos e afogamentos. Em 2012, a Justiça condenou Ustra e outros três militares a pagarem indenização por danos morais à família de Merlino.
O jornalista alagoano Jayme Amorim de Miranda, 49 anos, assassinado em 1975, é outro nome na lista que será apresentada pela comissão. Miranda era membro do PCB e foi preso numa rua do Rio de Janeiro. O corpo dele não foi entregue à família. No livro A ditadura encurralada, o jornalista Elio Gaspari destaca que o militante político foi visto nas dependências do DOPS, em São Paulo.
O presidente e o secretário-geral da Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas, Audálio Dantas e Sérgio Murillo de Andrade, disseram que o relatório reunirá informações obtidas por 18 sindicatos ligados à Fenaj. “A ideia é usar todos os dados num único documento para ser disponibilizado na internet e no formato de um livro”, disse Andrade.
Ele explicou que o trabalho focará ainda casos de profissionais que sobreviveram à tortura e veículos de comunicação fechados ou censurados pelo regime, especialmente no interior do País. “A situação era difícil, com a censura e as perseguições, mas eu me pergunto o motivo de não ter sido possível fazer alguma coisa”, comentou Dantas.
As versões falsas de suicídios e acidentes repassadas pela ditadura acabavam sendo absorvidas. Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Dantas avalia que a morte em sessão de tortura do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, em São Paulo, foi a “gota d’água” para uma “reação espontânea” do meio.
Em 2012, Dantas publicou a história do crime que mobilizou São Paulo e o País no livro As duas guerras de Vlado Herzog. Para ele, a divulgação do relatório sobre as mortes dos jornalistas contribuirá para o debate sobre liberdade de expressão especialmente num momento em que pequenos grupos de manifestantes pedem a volta dos militares ao poder.
“Esperamos que essas manifestações por conta do resultado das eleições presidenciais não sejam ovos da serpente”, afirmou o autor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.