O médico-legista Fortunato Badan Palhares repetiu nesta quarta-feira no tribunal de Maceió a tese de crime passional que defende desde que foi convocado pelo Ministério da Justiça para auxiliar as investigações da Polícia Federal sobre as mortes de Paulo César Farias e da namorada, Suzana Marcolino, ocorrida em 1996 na casa de praia do ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello. No terceiro dia de julgamento que tem como réus os quatro PMs que faziam a segurança de PC na noite do crime, Bandan utilizou uma série de slides com imagens dos corpos do casal – inclusive dos exames cadavéricos – para tentar mostrar que Suzana matou o ex-tesoureiro e se matou.
O julgamento de Reinaldo Correia de Lima Filho, Adeildo Costa dos Santos, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva, acusados de participação nas mortes, deve acabar nesta quinta-feira. Na época da investigação, o laudo da perícia comandada por Badan foi assinado por 10 peritos. “Um deles, o Molina, que participou da equipe, não quis assinar”, afirmou o legista. “Suzana teve motivos para praticar o crime”, disse Palhares, cujo depoimento se estendeu por boa parte da noite. “Evidências de os dois estarem sozinhos no quarto fechado levam a crer nisso”, afirmou.
A tese de Badan foi defendida por três outros peritos ouvidos anteriormente. A perita Anita Buarque de Gusmão – primeira profissional da polícia alagoana a entrar no quarto onde estavam os corpos de PC Farias e Suzana – revelou que foram encontrados vestígios de pólvora na mão de Suzana, o que indicaria que ela teria matado o namorado e depois se suicidado.
Nivaldo Cantuária, que também integrava a equipe de Anita, afirmou que o exame residuográfico deu positivo para as mãos de Suzana e negativo para as mãos do ex-tesoureiro de Collor. Além deles, prestaram esclarecimentos os médicos legistas José Lopes da Silva Filho e Gerson Odilon, responsáveis pelos exames cadavéricos nos corpos.
Réus
O julgamento entra nesta quinta-feira em seu quarto dia – e provavelmente o último – com o depoimento dos réus. O quatro faziam a segurança da casa de praia de PC Farias no litoral norte da cidade de Maceió na noite das mortes. Em situações anteriores, os seguranças disseram não terem ouvido os tiros disparados dentro da casa.
Nesta terça-feira, 7, o ex-deputado Augusto Farias, irmão de PC, prestou depoimento e defedeu os acusados. Augusto é responsável pelo pagamento dos advogados dos quatro. Ele já chegou a ser indiciado sob suspeita de ser o mandante do crime, mas seu caso foi arquivado por falta de provas pelo Supremo Tribunal Federal – à época ele era deputado tinha foro privilegiado. Nesta quinta, após o depoimento dos quatro réus, o juiz Maurício Brêda, que preside o Tribunal de Júri, abrirá espaços para as alegações finais da defesa e acusação. O terceiro dia de julgamento foi aberto às 8h desta quarta-feira, com o depoimento de Zélia Maria Maciel de Souza, prima de Suzana Marcolino. Ela confirmou que dias antes de morrer ao lado do namorado Paulo César Farias, Suzana comprou um revólver – o mesmo que teria sido utilizado no crime – e praticou tiro ao alvo em um sitio localizado próximo à sua residência, localizada na periferia de Maceió. Bastante nervosa, Zélia Maria Maciel revelou que intermediou a compra do revólver para Suzana, com a empresária Mônica Aparecida Calheiros, que já havia confirmado a venda, por R$ 350, no depoimento prestado na terça-feira 7. “Suzana alegou que queria a arma para se defender, por morava num lugar esquisito e costumava chegar tarde da noite em casa”, disse a prima.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.