O juiz federal Sérgio Moro afirmou, na manhã desta segunda-feira, 31, que o enfrentamento da corrupção pode ter um custo no curto prazo, mas que vale a pena. “No longo prazo, esse enfrentamento da corrupção sistêmica vai trazer ganhos a todos, porque o custo da corrupção sistêmica é algo extraordinário”, disse o juiz, que conduz as ações da operação Lava Jato. Ele participa na manhã desta segunda-feira, 31, de evento promovido pela revista Exame.

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O juiz argumentou que a corrupção prejudica a intenção do empresariado em investir no País, prejudica a concorrência livre entre empresas e também impacta a confiança da população nos mecanismos de transparência e Justiça.

Ele destacou a “perda da autoestima” e da “dignidade” dos cidadãos brasileiros como o maior efeito negativo da corrupção. “É preciso que não só as instituições públicas, mas as instituições privadas e todos os cidadãos digam não a essas práticas, ao pagamento de propina. Os ganhos futuros serão muito maiores que os custos imediatos”, afirmou

Nas investigações específicas da Petrobras, Moro diz que os prejuízos à estatal vão além dos desvios e chegam a investimentos que não fazem sentido para a companhia. Ele citou como exemplo a refinaria Abreu e Lima, que segundo mostraram investigados na operação, nem em toda sua vida útil traria lucro ou sequer se pagaria.

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Moro reiterou que, nas ações da Lava Jato, há indícios claros de corrupção sistêmica e destacou que o mais impressionante para ele é a “naturalização” do pagamento de propina evidenciado nas investigações.

Segundo o juiz, uma pergunta feita a um dos delatores sobre o porquê do pagamento de propina e da determinação dos porcentuais teve como resposta que essa era a “regra do jogo” e que tudo já estava “determinado”. “Há uma dificuldade de se esclarecer por que se pagava propina”, explicou.

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No início da sua palestra, Moro destacou que a seu ver sempre haverá corrupção. “A corrupção como crime, como ato de desvio do ser humano, é um tipo de crime que sempre vai acontecer, remonta a tempos imemoriais, não importa o que façamos como instituições. A não ser que, num futuro muito distante nos transformemos todos em anjos”, ironizou, reforçando a importância de se fortalecer os mecanismos de investigação e Justiça. O juiz repetiu que não é a Lava Jato, como não foi a investigação do mensalão, que vai mudar o País, mas o fortalecimento das instituições.

Moro encerrou sua apresentação sugerindo que se aproveite esse momento em que a população está indo para as ruas. “Temos de aproveitar esse momento em que as pessoas deixam a condição de consumidoras para assumirem de cidadãs, algo muito raro na nossa democracia de massas”, disse pedindo que as pessoas não se acomodem. “É sempre mais escuro antes do amanhecer.”

Além de Moro, falarão no evento promovido pela Exame, nesta manhã, o ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes e o vice-presidente Michel Temer.