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Moro diz à PF que foi alvo do gabinete do ódio e liga Carlos Bolsonaro a grupo investigado

Foto: Rodrigo Sierpinski/Gazeta do Povo

O ex-ministro Sergio Moro (Justiça) disse à Polícia Federal que ouviu de ministros palacianos comentários sobre a ligação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o filho 02 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com o chamado “gabinete do ódio”.

Moro afirmou ainda que foi alvo de ataques do grupo após ter deixado o cargo. O depoimento foi prestado à polícia no último dia 12 no inquérito dos atos antidemocráticos que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal). O teor do interrogatório foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pela reportagem.

O “gabinete do ódio” é responsável por parte da estratégia digital bolsonarista. A existência do grupo foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo em setembro do ano passado. O jornal mostrou que o bunker ideológico está instalado numa sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos passos do gabinete presidência.

Moro foi convocado porque na época dos fatos em apuração ele era o titular da Justiça. A apuração busca elucidar o envolvimento de familiares e apoiadores do presidente com as manifestações que pediam fechamento do STF e do Congresso.

No Twitter, Carlos reagiu às declarações de Moro à PF. O vereador disse que “não há qualificação para mais essa tentativa boçal. Saudades de viver em um mundo em que homens eram homes”.

Os ministros palacianos são Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

A delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro, encarregada do inquérito, perguntou ao ex-ministro se, no período em em que atuou no governo, “tomou conhecimento, por qualquer meio, da existência ou da identificação de uma estrutura montada com a finalidade de produzir e disseminar conteúdos por meio das redes sociais”.

Moro respondeu que “havia comentários correntes de pessoas de dentro do governo da existência do denominado ‘gabinete do ódio’”.

Questionado sobre quais pessoas teriam realizados tais comentários, ele respondeu inicialmente que “eram várias pessoas de diversas funções dentro do governo federal”.

Em trecho mais adiante, ele atribuiu a “ministros do Palácio do Planalto” os comentários sobre a ligação de Carlos com o “gabinete do ódio”, mas não indicou os nomes desses ministros à polícia.

Ao deixar o comando do Ministério da Justiça, disse Moro no depoimento, ele sofreu diversos ataques nas redes sociais.”Chegou a seu conhecimento que tais ataques eram oriundos do denominado ‘gabinete do ódio'”, afirmou o ex-ministro à polícia.

A Folha de S.Paulo mostrou no dia 25 de abril, logo após a demissão de Moro, que investigações identificaram indícios do envolvimento de Carlos no esquema de notícias falsas, também vinculado ao gabinete do ódio.

O ex-ministro disse também à PF que os comentários de ministros palacianos relacionavam, além de Carlos, Tércio Arnaud Tomaz ao “gabinete do ódio”. Tércio é atualmente assessor especial da Presidência e atuou na campanha de Bolsonaro em 2018.

No mesmo inquérito, Carlos disse à polícia que foi apresentado a Tércio Arnaud pelo próprio pai em 2017, em razão do conhecimento do hoje assessor especial sobre redes sociais. Tércio chegou a atuar como no gabinete de Carlos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, o inquérito foi aberto a partir de um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República).

A PF tem feito progressos na coleta de informações sobre a organização e o patrocínio desses atos, ocorridos seja em ambiente virtual, seja nas ruas do país —um deles, no mês de abril em Brasília, em frente ao QG do Exército, contou com a presença do presidente Bolsonaro.

Apura-se crimes previstos na Lei de Segurança Nacional, de 1983, entre eles “fazer, em público, propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social” ou “incitar à subversão da ordem política ou social ou à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições”. As penas podem chegar a 4 anos de prisão.

Evidenciada pelos interrogatórios realizados nos últimos dois meses, uma das linhas de apuração é tentar esclarecer o envolvimento de assessores diretos do presidente.

A PF perguntou a Moro se ele tem informações sobre a participação direta ou indireta de servidores públicos nos ataques a autoridades, seja na produção, publicação, divulgação ou replicação de conteúdos. O ex-ministro disse que não, mas afirmou aos investigadores que seria necessário apurar.

Sobre as manifestações de rua em que aliados de Bolsonaro pediam o fechamento de instituições e a intervenção das Forças Armadas, Moro respondeu que não sabe dizer se esses eventos tinham relação com o Palácio do Planalto.

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