Preocupados com a rebeldia do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, foram na noite de quarta-feira, 29, até o Congresso e se reuniram com ele a portas fechadas, no gabinete. Queriam acertar os ponteiros, já que, nos últimos dias, Renan virou um aliado com discurso de oposição.
Interlocutores do presidente Michel Temer, ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, disseram que o governo ofereceu a Renan a recriação do Ministério dos Portos, em troca do apoio à Reforma da Previdência e ao fim de suas críticas ao projeto de terceirização, que foi aprovado pela Câmara e deve ser sancionado nos próximos dias. “O PMDB se sente fora do governo, mas eu, pessoalmente, não quero cargo nenhum. Seria o meu completo esvaziamento na bancada”, disse Renan ao jornal. “O que não podemos deixar de constatar é que há uma dificuldade nesta coalizão, na qual os partidos menores ocupam os maiores espaços.”
O líder do PMDB quer que Temer vete a proposta da terceirização – considerada por ele “muito dura” por abranger até mesmo a atividade-fim – e mande depois uma Medida Provisória com regras mais brandas para a apreciação do Congresso.
Renan também disse a Padilha e Moreira que a Reforma da Previdência não será aprovada como está. O senador chamou para o encontro com os ministros alguns colegas do PMDB. Em conversas reservadas, disse que queria “testemunhas” para que não ficasse parecendo que estava negociando cargos com o Palácio do Planalto. O líder do governo no Senado e presidente do PMDB, Romero Jucá (RR), participou da reunião, que durou quase três horas.
“No governo, vejo que sempre perguntam: ‘O que o Renan quer?’ Ora, eu quero a definição de políticas públicas, a calibragem das reformas do Estado e a inserção da bancada do PMDB no governo”, afirmou Renan.
Sem ceder em nada nas críticas às últimas medidas de Temer, o senador repetiu nesta quinta-feira que o PMDB não pode se “confundir” com o governo. “Há hoje o sentimento de que, quando o governo acabar, acabou o PMDB. Não dá para ser assim. Precisamos preparar o partido para eleger senadores, em 2018, e também ter um projeto”, insistiu Renan, que é candidato à reeleição.
Renan Filho, governador de Alagoas, também disputará o segundo mandato. “O que o governo precisa é conversar, e não enviar medidas para o Congresso sem diálogo, sem nada. Há muita improvisação”, disse ele.