Depois da presidente Dilma Rousseff e da Petrobras, o programa Fantástico, da Rede Globo, revela que o Ministério de Minas e Energia foi alvo do esquema de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA na sigla em inglês) dos Estados Unidos. A denúncia está baseada em documentos entregues por Edward Snowden, ex-analistas da NSA, ao jornalista Glenn Greenwald, co-autor da reportagem.
A comunicação de computadores, telefones fixos e celulares do MME foi mapeada pelos Estados Unidos em parceria com a Agência Canadense de Segurança em Comunicação (CSEC). Segundo os documentos obtidos pela reportagem, a operação só detalhava quem falou com quem, quando, onde e como, mas sugeria que o conteúdo das conversas e mensagens seria analisado numa operação posterior.
As informações constam de uma apresentação feita numa conferência de junho do ano passado reunindo analistas das agências de espionagem de cinco países – EUA, Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. O documento mostra o funcionamento de um programa de espionagem chamado Olympia e usa o Ministério como alvo.
Entre as ligações telefônicas registradas estão contatos com a Organização Latino-Americana de Energia (Olade) e com a embaixada do Brasil no Peru. O sistema é capaz de identificar até os modelos dos aparelhos celulares utilizados e rastreou, por exemplo, ligações do embaixador Paulo Cordeiro, que era baseado no Canadá e hoje trabalha no departamento de Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores.
Em entrevista ao Fantástico, o ministro Edison Lobão, do MME, disse que as ações de espionagem são graves e merecem repúdio. Ele destacou o interesse do Canadá no setor mineral brasileiro. “Há muitas empresas canadenses que manifestam interesse no país. Se daí vai o interesse em espionagem pra servir empresarialmente a determinados grupos, eu não posso dizer”, afirmou. Segundo a reportagem, de cada quatro grandes empresas de mineração do mundo, três têm sede no Canadá.
Questionado sobre o prejuízo econômico que o sistema de espionagem pode ter causado ao País, Lobão disse que “isso não foi avaliado ainda”. Os servidores espionados eram usados para conversas sigilosas com órgãos como a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a Petrobras, a Eletrobrás, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e a presidente Dilma Rousseff.
Para ex-presidente da Eletrobras Luiz Pinguelli Rosa, ouvido pelo programa, as informações podem servir a empresas interessadas em concorrer aos leilões do pré-sal, por exemplo. “Isso pode dar uma vantagem competitiva a quem espiona”, afirmou.
Procuradas pela rede de TV brasileira, a embaixada do Canadá e a NSA não comentaram a reportagem. A nota da NSA diz que os Estados Unidos estão revisando as ações de inteligência. A CSEC disse que não comenta suas atividades no exterior.
Segundo documentos fornecidos por Snowden, a NSA também espionou a Petrobras. A denúncia foi divulgada no início de setembro pelo próprio Fantástico. De acordo com a reportagem, o nome da estatal brasileira aparecia numa apresentação a novos agentes sobre espionagem a redes privadas de computador.
Os documentos não permitiam determinar desde quando a Petrobras vem sendo espionada ou a que tipo de informação a NSA teve acesso, mas a companhia possui dados sensíveis e valiosos, como os que se referem ao pré-sal. Segundo a reportagem, dependendo das informações acessadas, participantes poderiam ter vantagens na disputa do leilão de exploração do Campo de Libra, na Bacia de Campos, previsto para 21 de outubro. A Petrobras não comentou o assunto.
Depois da denúncia, a NSA enviou uma nota ao programa negando o uso das informações em benefícios de empresas americanas. No texto, a agência disse que a coleta de informações econômicas visa a prevenir crimes financeiros que possam afetar os mercados internacionais.
Dilma – No fim de agosto, o Fantástico havia trazido uma reportagem mostrando que Dilma Rousseff e seus principais assessores foram monitorados pela NSA. Conversas telefônicas e e-mails da presidente brasileira foram interceptados pelo órgão americano.
A reportagem teve acesso a uma espécie de apresentação feita para o público interno da NSA que trata de dois “estudos de caso”: a presidente Dilma e o atual presidente do México, Enrique Peña Nieto, quando ainda era candidato. Não ficou claro se o esquema está ativo, se a interceptação foi feita exclusivamente por meio de redes de comunicação ou se houve espiões no Brasil ou em embaixadas.
A revelação gerou uma crise diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos. Dilma pediu explicações do governo de Barack Obama e decidiu cancelar sua viagem oficial aos Estados Unidos, marcada para o dia 23 de outubro. Na avaliação da presidente, as respostas dadas até agora pelos Estados Unidos sobre os vazamentos do ex-técnico da NSA Edward Snowden não foram satisfatórias.
No último dia 24, durante a abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a presidente brasileira denunciou o caso como uma violação dos direitos humanos e um desrespeito à soberania do País. (Equipe AE)