O Ministério Público investiga se o prefeito de Castro, nos Campos Gerais, Moacyr Elias Fadel Junior (PMDB), recebeu propina de diretores da concessionária do transporte coletivo do município. A denúncia foi feita por Adolfo Rodrigues Neto, ex-funcionário da empresa Viação Cidade de Castro Ltda., ao promotor Paulo Conforto. Ele também entregou a cópia de um vídeo, em que o prefeito aparece guardando maços de dinheiro sob a jaqueta.
Segundo o denunciante relatou ao MP, o prefeito pagava propina para favorecer a Viação Cidade de Castro nas licitações da prefeitura e reduzir o pagamento de ISS através de fraude nas roletas. Adolfo também acusa os sócios da empresa Nilson Medeiros, Mário Jorge Fadel e Marcelo Jorge Fadel de envolvimento no esquema de corrupção. Conforme cópia das declarações de Adolfo ao MP, obtidas pelo Jornal da Manhã, ele afirma ter trabalhado entre agosto de 1994 a agosto de 2009 na Viação Cidade de Castro, onde exercia o cargo de encarregado-geral e, dentre outras atribuições, contratava funcionários e fazia pagamento de compras.
Adolfo declarou ao promotor que, entre 2005 e 2009, se encontrou cerca de cinquenta vezes com o prefeito, para repassar o dinheiro da propina. “Os pagamentos eram periódicos e sempre em espécie”, declarou. “No início era entregue a importância mensal de R$ 4 mil. Depois aumentou para R$ 6 mil; R$ 8 mil; R$ 12 mil; R$ 15 mil; R$ 20 mil; e nos últimos meses era de R$ 25 mil”, conta Adolfo. Conforme afirma, por várias vezes presenciou os sócios da empresa (Nilson Medeiros, Mário Jorge Fadel e Marcelo Jorge Fadel) entregarem dinheiro ao prefeito Fadel.
Em junho de 2009, conforme afirma, a pedido de Marcelo Jorge Fadel, de quem recebeu um pequeno gravador, filmou um encontro ocorrido no escritório da empresa, entre ele e o prefeito Fadel. Nessa ocasião, citou, utilizou uma câmera pessoal para fazer as imagens. As gravações mostram Adolfo entregando três maços de dinheiro ao prefeito, que segundo ele, somavam R$ 15 mil. Posteriormente, o denunciante diz que entregou mais R$ 10 mil ao prefeito.
“Denúncias politiqueiras“
Em entrevista ao Jornal da Manhã, o prefeito classifica as denúncias de Adolfo como “evasivas, sem consistências e nitidamente oportunistas, com intenções meramente politiqueiras”. “Por que apenas três anos depois ele resolveu fazer isso? Porque estamos na véspera de uma eleição e a oposição, que não consegue subir nas pesquisas, faz este jogo sujo, para tentar denigrir a minha imagem e comprometer a minha administração. Eu estou muito tranquilo”, ressalta.
Fadel diz que não pegou dinheiro da empresa. “Eu fui à empresa pegar R$ 15 mil que eu havia emprestado para o Adolfo. Ele armou tudo”, defende-se. Segundo o prefeito, Adolfo já havia tentado extorquir o dono da empresa (Marcelo Fadel) e depois, por diversas vezes, também passou a extorqui-lo. “Há 10 dias ele pediu R$ 50 mil, dizendo que tinha um vídeo que me comprometia. Como ele não conseguiu vender para mim, vendeu para o grupo da oposição. Eu até sei quem é o deputado que orquestrou tudo isso”, comenta.
O prefeito diz poder provar que nos últimos meses Adolfo, identificando-se pelo apelido de Zé, passou a ligar insistentemente para a sua secretaria, na Prefeitura, solicitando dinheiro. O próprio irmão de Moacyr chegou a receber telefonemas intimidadores. “Ele dizia que estava com o filho doente e que precisava urgentemente de grana para trata-lo. Se não fosse atendido, dizia que ia estourar uma bomba”, declara Moacyr. A “bomba”, neste caso, seria o vídeo em que Moacyr aparece pegando dinheiro. O prefeito diz estar à disposição do Ministério Público e da Justiça para prestar todos os esclarecimentos.
Marcelo Jorge Fadel, um dos sócios da Viação Castro, desqualifica as denúncias do ex-funcionário e promete processá-lo por difamação e injúria. “É tudo mentira. Nem eu ou meu pai (Mário Jorge) pagamos propina ao prefeito”, afirma. Marcelo disse ter assumido o comando da Viação Castro em maio de 2009, após ter identificado diversos desfalques em caixa. A situação patrimonial da empresa, segundo relata, era extremamente grave. Dois meses depois, Adolfo, que estava na administração, foi demitido. “O acerto com ele foi feito no sindicato e nós pagamos todos os direitos dele. Em 2010, ele e o filho dele entraram na Justiça do Trabalho pedindo uma indenização de R$ 1 milhão, mas perderam em todas as instâncias”, relata. “Eu nunca mandei ele gravar nada e também nunca vi este vídeo”, acentua. O empresário diz também que, apesar de sobrenomes parecidos, não é parente do prefeito Moacyr.