O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), tem elaborado pauta de votação que é um pacote de bondades para um amplo leque de categorias. Após adotar novo sistema nas votações, para evitar que as medidas provisórias trancassem a pauta, Temer atende às demandas paradas na Casa. “O Brasil passa pela minha sala hoje. Os que querem e os que não querem votar vêm ao gabinete”, afirma Temer, principal nome do PMDB para ocupar o cargo de vice na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na disputa presidencial de 2010.
O reflexo é visível no Salão Verde e nos corredores das comissões. A cada semana, os espaços são ocupados por caravanas de lobbies. São enfermeiros, policiais, procuradores, juízes, suplentes de vereadores partindo para pressão corpo a corpo com deputados e Temer.
Com lista de prioridades em mãos, líderes dos partidos apresentam projetos que devem ser votados. “Estou limpando a pauta. Tirando esqueletos do armário”, resume Temer, comemorando votações. Ele interpretou que as medidas provisórias não impediam a votação da maior parte dos projetos e, depois, proibiu parlamentares de apresentar emendas nas MPs que não tivessem ligação com o texto original. Por fim negociou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a retirada do regime de urgência dos projetos do pré-sal, motivo de obstrução das sessões pela oposição, promovendo a pacificação na Casa.
Apenas neste mês, a Câmara aprovou, em primeiro turno, mudanças na Constituição para aumentar o número de vereadores e beneficiando os servidores municipais e estaduais de Rondônia com a transferência dos funcionários para os quadros da União. A votação em segundo e último turno da proposta de emenda constitucional dos vereadores será nesta semana. Tem mais: depois de quatro anos em busca de aumento salarial, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o procurador-geral da República tiveram seus projetos aprovados, com efeito cascata para todo o Judiciário e o Ministério Público.
Os Tribunais Regionais do Trabalho tiveram o que comemorar. Projetos parados desde 2001 foram aprovados criando vagas de juízes, cargos e comissões para servidores. Os pedidos não param. Os bombeiros e policiais do Distrito Federal também deverão ser beneficiados. O projeto que trata de gratificação de risco de vida para as categorias entrou em regime de urgência por requerimento dos líderes partidários.
O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), pretende aprovar até amanhã a criação de 5 mil cargos para universidades. A pressão dos delegados de polícia parece permanente na Casa. A categoria quer aprovação de proposta que equipara salários dos policiais civis aos dos promotores de Justiça, o que vai provocar aumento nas contas estaduais.
Temer reconhece o potencial eleitoral de alguns projetos para deputados e para ele próprio. Ele evita, porém, fazer ligações com a eventual candidatura a vice na chapa de Dilma. “Ninguém é candidato a vice. Isso se dá em uma composição, de acordo com as circunstâncias do momento”, avalia. “No momento que estou cumprindo o meu papel, estou me posicionando. Mas o que vai acontecer no futuro, não se sabe.”
Um interlocutor parlamentar de Lula avalia que a força do peemedebista será medida pela capacidade de Temer conseguir levar o apoio do partido à candidata de Lula sem problemas nos palanques nos Estados. “Os deputados não querem desagradar nenhum tipo de eleitor e vai votando tudo. É o vale tudo”, afirmou o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), um dos poucos deputados que têm votado contra aumentos de gastos.