Personagem do submundo dos dossiês, com trânsito livre entre petistas, o lobista Nilton Antônio Monteiro ganhou notoriedade em 2005 como encarregado da divulgação da “lista de Furnas” com supostas doações do caixa dois da estatal do setor elétrico nas eleições de 2002 – a maioria delas para políticos do PSDB e do DEM. Processado pela produção de dossiês, Nilton submergiu.
Agora, às vésperas do ano eleitoral, o lobista reapareceu com o mesmo script: na quinta-feira passada, depois de se reunir com advogados que fizeram a ponte com o ex-ministro José Dirceu (PT), Monteiro desembarcou em Brasília, carimbou papéis em um cartório, visitou o gabinete da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) e fez chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Ministério Público Federal “documentos” com o objetivo de ressuscitar a controversa “lista de Furnas”.
Um dos documentos desperta incredulidade: é um recibo de caixa dois. Um documento típico da abertura da temporada de dossiês destinados a alimentar o submundo da campanha presidencial de 2010.
Famoso mercador de dossiês, Nilton Monteiro foi acusado de falsário nas investigações do mensalão, quando trouxe à baila a “lista de Furnas”. É investigado pela polícia e responde a mais de 200 processos movidos por políticos cujos nomes aparecem na lista. As aparições do polêmico lobista com seus igualmente polêmicos documentos ocorrem, quase sempre, em períodos pré-eleitorais.
O que chama atenção é que, desta vez, Nilton Monteiro tem procurado se aliar a parceiros de peso no mundo da política – parceiros, por sinal, com todo interesse em fomentar a suspeita que os documentos do caso Furnas lançaram sobre tucanos e democratas.
Hoje, a aliança mais vistosa de Nilton é com ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu.Nas últimas semanas, Dirceu se encontrou pessoalmente, por duas vezes, com parceiros de Nilton (leia abaixo) e destacou seu braço direito, o advogado Hélio Madalena, para cuidar dessa relação. Tanto Dirceu quanto Nilton negam a aliança. É inegável, porém, que foi depois dos contatos com o ex-ministro que o lobista voltou à carga, mais de três anos após a confusão que o caso Furnas gerou na CPI dos Correios, onde o mensalão foi investigado.
Na quinta-feira, o jornal O Estado de S.Paulo acompanhou os passos de Nilton Monteiro em Brasília. Já era final da manhã quando ele desembarcou de um avião de carreira, vindo de Belo Horizonte. Tinha a seu lado um homem bem vestido, bolsa Louis Vuitton a tiracolo. O homem, identificado como Jadson de Paiva Cunha e classificado por Nilton como seu “parceiro”, acompanharia o lobista durante todo o seu périplo pela capital.
Ainda no aeroporto, Nilton sacou de sua bolsa uma lista com nomes de assessores do ministro Joaquim Barbosa, do STF, a quem deveria procurar. E foi justamente o prédio do Supremo, na Praça dos Três Poderes, o primeiro destino do lobista – antecedido por uma rápida passagem por um cartório de notas, na quadra 504/505 Sul, para autenticar cópias do documento. No gabinete de Barbosa, Nilton Monteiro não conseguiu ser atendido pelo ministro, mas deixou protocolada uma das cópias. Queria anexar o original, mas os assessores de Joaquim disseram ser norma da casa não receber originais.
A ideia de Nilton Monteiro – ou de seus “parceiros”, como ele mesmo define – é tentar convencer o ministro Joaquim Barbosa de que o caso Furnas teria conexão com o chamado “valerioduto mineiro”, o esquema montado em 2006 pelo empresário Marcos Valério de Souza para irrigar a campanha de Eduardo Azeredo, então candidato tucano ao governo de Minas Gerais. Detalhe: nesse caso, foi o mesmo Nilton Monteiro quem apareceu com os documentos que deram origem ao escândalo, cuja receita seria repetida anos depois, com o mesmo Marcos Valério, no mensalão petista. Nilton, nos anos 90, foi aliado dos tucanos mineiros que dirigiam Furnas.