A nomeação do presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, para assumir o comando da Petrobrás no lugar de Graça Foster não foi bem digerida ontem pelo mercado. O fato de o executivo ser alinhado com o governo federal frustrou as expectativas de analistas, que esperavam um nome de peso do mercado financeiro e independente, menos suscetível a interferências do Planalto na estatal.

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Com Bendine, o esperado choque de credibilidade não vai acontecer, disse Ricardo Kim, analista da XP Investimentos. O mercado esperava alguém com autonomia para reverter a situação difícil vivida pela companhia. “Com Bendine à frente do Banco do Brasil, os bancos públicos aumentaram sua participação no estoque total de crédito, pressionando as margens praticadas pelo setor. É uma sinalização de sua proximidade com o governo”, afirmou.

Um analista que preferiu não se identificar lembrou que em dezembro a imprensa ventilou que Bendine poderia ir para a presidência da Cielo. A reação do mercado foi negativa. “O mercado não viu com bons olhos a ida dele nem mesmo para outra empresa do setor financeiro. Isso mostra que não é um executivo de confiança dos investidores”, afirmou o analista.

“Não vejo questionamentos sobre sua capacidade. Inclusive pode ser positivo para a companhia ter um presidente com conhecimento do mercado financeiro, devido à situação delicada pela qual passa, diante de sua alta alavancagem”, disse a analista da Concórdia, Karina Freitas. “O problema é que a escolha não corresponde à expectativa do mercado de diminuição do nível de ingerência do governo na Petrobrás.”

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Para José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, a reação negativa ocorreu não pela falta de competência do executivo, mas por seu perfil profissional. “Independentemente da competência, ele tem uma característica importante: é uma pessoa diretamente ligada à presidente Dilma Rousseff”, destacou o economista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

Credibilidade

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Na avaliação do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a reação negativa é reflexo da credibilidade “bastante discutida” e pelo perfil mais político do que técnico do gestor. “Ele fez um grande trabalho no BB do ponto de vista financeiro, mas há dúvidas em relação à credibilidade dele, que ficou bastante discutida por conta de eventos levantados”, avaliou Agostini.

Ele se refere a fatos como a denúncia do ex-motorista do BB Sebastião Ferreira da Silva, que, em depoimento ao Ministério Público, disse ter feito diversos pagamentos em dinheiro vivo a mando de Bendine. Também no ano passado, foi revelado pela imprensa que Bendine teria favorecido a apresentadora de TV e amiga dele Val Marchiori com empréstimo de R$ 2,7 milhões, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES, contrariando normas internas das duas instituições. Em ambos os casos, Bendine negou as acusações, classificando-as como “absurdas”.

“Quando a Graça (Foster) saiu, o mercado reagiu positivamente. O próximo passo seria indicar alguém que tivesse relação extremamente técnica com o setor, que não tivesse apelo político e comprometido com o resgate da credibilidade e das finanças da empresa. Para isso, teria que ter alguém com biografia extremamente indiscutível na gestão de grandes empresas”, afirmou Agostini.

Balanço

A expectativa agora recai sobre a divulgação do balanço auditado. Para o economista Hersz Ferman, da Elite Corretora, a mudança da diretoria da empresa era inevitável, mas que sua simples troca não resolve o problema da empresa, que é estrutural. “A Petrobrás passa por uma fase complicada, com grandes investimentos, alto endividamento e preços de petróleo em baixa.”

O principal ponto para a estatal é a divulgação do balanço auditado, necessário para não disparar cláusulas de covenants e consequente pedido de resgate antecipado por parte dos credores. “É provável que se a empresa não entregar os números auditados perderá o grau de investimentos. Por isso, esse é o evento crucial no curto prazo”, disse Ferman.