Mesmo sentado na cadeira de líder do PT, o senador Aloizio Mercadante (SP) deixou ontem o Conselho de Ética do Senado ostentando o título de grande derrotado na operação política que livrou o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), de um processo de cassação. O senador entrou em confronto com a direção nacional do PT, ficou sem condições de diálogo com a cúpula do PMDB no Senado e deixou irados o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a pré-candidata petista à Presidência, a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff. “Admito que isso vai dificultar minha interlocução com o Planalto e com o governo”, disse Mercadante, insistindo em responsabilizar Sarney pela “dificuldade” que o PT vive hoje.
Com os votos dos três representantes do PT, o Conselho de Ética absolveu ontem o presidente do Senado e o líder dos tucanos, o senador Arthur Virgílio (AM). O arquivamento de todas as denúncias e representações, que fazia parte do “acordão” selado na semana passada entre líderes governistas e a oposição, abriu uma crise na bancada do PT. Além da acusação de negar solidariedade aos petistas forçados a absolver o peemedebista, Mercadante sai do episódio com uma baixa em sua própria bancada – a do senador Flávio Arns (PR), no mesmo dia em que perdeu Marina Silva (AC).
“Não radicalizei. Simplesmente não cedi”, disse ele, ao confessar seu desconforto à frente da liderança. “O mais coerente e melhor para mim, politicamente, seria eu renunciar. É o que eu teria feito logo após a reunião do conselho, não fosse o apelo sincero de todos, inclusive do senador João Pedro (AM), de que minha saída agravaria mais a situação do partido.” Mercadante observou que a possibilidade de renúncia “ainda está em aberto”.