A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, que já havia manifestado seu descontentamento com a hipótese de o PT não ter candidato próprio ao governo de São Paulo e com a eventual candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB), saiu ontem em defesa do nome do deputado para governar o Estado. “Eu quero deixar aqui uma coisa pra vocês bem clara, é melhor um cabra arretado (Ciro) do que picolé de chuchu (o pré-candidato tucano Geraldo Alckmin)”, disse ela, em discurso realizado na posse do novo diretório municipal paulista da legenda.
A ex-prefeita, que trajava um vestido vermelho, fez um discurso inflamado de cerca de dez minutos, com críticas às gestões do governador e presidenciável tucano José Serra e de seu aliado, o prefeito Gilberto Kassab (DEM). Segundo ela, São Paulo será fundamental para eleger não apenas um governador do partido, mas também a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata da sigla à sucessão presidencial: “Com cabra arretado ou candidato próprio, nós vamos ganhar em São Paulo e vamos eleger a Dilma.”
Em outubro do ano passado, Marta chegou a dizer que a candidatura Ciro não tinha nada a ver com São Paulo, por defender o nome do deputado Antonio Palocci (PT-SP). Entretanto, Palocci desistiu de concorrer ao governo paulista e o PT ficou sem um nome competitivo para essa disputa. “O PT vive em São Paulo o que o PSDB está vivendo em nível nacional”, atesta Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na avaliação de Carvalho Teixeira, a falta de um nome competitivo em São Paulo é um dos grandes desafios que o PT enfrenta neste momento. E a defesa do nome de Ciro por Marta é feita num momento em que o deputado dá mostras de que não pretende entrar na disputa ao governo paulista, mas sim disputar a Presidência da República. Com relação aos problemas enfrentados pelos tucanos na campanha majoritária, o cientista político reitera que eles ainda não levaram a público o nome de quem vai disputar a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Em nível nacional, o PSDB está sem discurso e sem interlocutor, tanto que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve de sair de novo a campo para defender sua administração.” Para Carvalho Teixeira, se a eleição tender mesmo para o plebiscito e para a comparação de gestões (Lula x FHC), os tucanos devem ficar em desvantagem: “O Lula, que tem um índice de aprovação muito elevado e sabe traduzir para uma linguagem popular os números de sua gestão, sai ganhando se essa briga for levada aos palanques nessas eleições.”