Após conversar com o presidente Michel Temer em São Paulo, o advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira afirmou que a Polícia Federal desviou os “rumos” iniciais do inquérito sobre o Decreto dos Portos, que investiga o emedebista, aliados políticos e empresas do setor portuário. Além disso, o criminalista disse que não há fatos suficientes para apresentação de uma nova denúncia contra Temer.

continua após a publicidade

A PF pediu mais 60 dias para concluir o inquérito. Hoje, a Procuradoria-Geral da República se manifestou favorável à solicitação submetida ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

continua após a publicidade

A PF ouviu ontem Maristela Temer, uma das filhas do presidente, sobre uma reforma em sua residência que teria sido utilizada para lavar dinheiro de propina. Ela nega as acusações.

continua após a publicidade

“Todo inquérito que é prorrogado muito é porque não está tendo as provas necessárias para satisfazer a Polícia ou o Ministério Público”, disse o defensor. “Estão querendo rechear o inquérito mesmo que haja desvio dos rumos iniciais. O inquérito foi instaurado para investigar portos, de repente está ouvindo a filha do presidente por causa de uma reforma em uma casa. Fica uma coisa meio bagunçada.”

O advogado alegou que os “desvios” nos rumos do inquérito o fazem acreditar que não há possibilidade de uma nova denúncia contra Temer. “Se tivesse um fato concreto, prova ou pelo menos indícios fortes de cometimento de algum crime, o inquérito já teria terminado e a denúncia já teria sido oferecida.”

Mariz afirmou que Temer já conversou com a filha Maristela após o depoimento e relatou “que está tudo bem”.

Além disso, o presidente conversou com o advogado sobre as duas denúncias arquivadas pela Câmara no ano passado. As ações devem ser analisadas pela Justiça na primeira instância após Temer deixar o cargo. “Ainda não tem estratégia, se ele terminar o mandato os processos terão início no primeiro grau, ele será citado, terá um prazo para oferecer defesa preliminar e haverá ou não o recebimento da denúncia”, disse Mariz.

Foro

O advogado criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de restringir o foro privilegiado, em caso de deputados e senadores, para crimes cometidos no cargo e relacionado às funções desempenhadas.

Mariz classificou a decisão como um “jogo de cena” e “ilusão”, por não estender a medida a juízes, e disse que o entendimento vai “entupir” o Supremo com novos questionamentos. Mariz citou declaração feita pelo ministro Luís Roberto Barroso, que propôs a tese vencedora no julgamento, de que a decisão representava “um País que está abolindo privilégios”.

O criminalista alegou que não há “igualdade” ao diminuir a extensão do foro para políticos e manter para outros cargos. “Que igualdade é esta? O Parlamento perdeu o foro. E o juiz? E o ministro? Se um deputado atropelar alguém agora ele vai responder em primeiro grau. Se ele, Barroso, atropelar alguém, vai responder no Supremo. Para ele não mudou”, comentou o advogado. “Tudo conversa, o País está um pouco hipócrita. Fica esse jogo de cena, essa coisa para iludir a sociedade.”

Para o criminalista, a interpretação do STF vai aumentar a quantidade de processos na corte. Ele disse que os ministros terão de definir em cada caso se os crimes foram cometidos em razão do cargo para destinar o caso à primeira instância ou manter os processos no Supremo. “Vai entupir o Supremo como nunca. Vai ter que discutir caso a caso se o fato ocorrido foi em razão do cargo, pode ter o efeito contrário”, disse, após se reunir com o presidente Michel Temer na capital paulista.