“Noiva” mais cobiçada do segundo turno da sucessão presidencial, a senadora Marina Silva (PV-AC) sinalizou hoje, três dias após o primeiro turno, que não abrirá mão de pelo menos dois pontos para negociar um possível apoio a Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB): propostas concretas para melhorar a educação no País e a posição dos seus ex-adversários sobre a proposta do novo Código Florestal.

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Em entrevista coletiva realizada na tarde de hoje, em São Paulo, Marina disse que as discussões sobre um possível apoio no segundo turno serão baseados em propostas – já que nem Dilma nem Serra apresentaram uma plataforma de governo até agora – e rechaçou a possibilidade de negociação em torno de cargos. “É preciso traduzir isso (preocupação com educação e meio ambiente) não só em números e palavras de ordem”, disse. “Não basta ser algo declaratório.”

Segundo Marina, o PV – que vai preparar amanhã um documento com dez propostas que serão encaminhadas ao PT e ao PSDB – não tem a pretensão de que os candidatos assumam um compromisso com todas as suas propostas. “Vamos ver como é que os compromissos serão internalizados (nas plataformas de Dilma e Serra)”, afirmou. Ela lamentou que a petista e o tucano não tenham se posicionado sobre o Código Florestal no primeiro turno. “O que foi um retrocesso, no meu entendimento.”

Marina disse que, durante o debate interno sobre a posição do partido no segundo turno, o que tem prevalecido é a preocupação de como atender às expectativas e provar estar à altura dos 20 milhões de votos dados à candidatura verde. “O que pesa para mim é a responsabilidade”, admitiu.

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Ela destacou que neste momento o mais importante é entender o recado das urnas. “Há um recado sendo dado que precisa ser aprendido”, disse, referindo-se à posição contrária de seus eleitores ao que vem chamando de “velha política” e à derrota dos senadores tucanos Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM).

Para Marina, além de corresponder aos seus simpatizantes, o PV está tendo a oportunidade agora de falar aos mais de “100 milhões de eleitores”. Ela evitou comentar às recentes declarações de Serra de que sempre defendeu a causa ambientalista. “A sociedade vai olhar para atitudes e posturas. Não posso julgar”, desconversou.

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‘Coração sangrando’

Ao recordar sua saída do PT em “nome de seus valores” e comentar sua ligação pessoal com ex-colegas do partido, Marina segurou as lágrimas e se emocionou, admitindo que falava com o “coração sangrando”. “O coração está tranquilo”, disse, se recompondo em seguida. Ela reforçou que sua ligação com o PT não influirá na decisão que tomará nos próximos dias. “O que vai pesar para mim são os compromissos com a nova postura.”

Marina voltou a admitir que poderá, ao final do processo de discussão interna no PV, discordar de seu partido. “Espero que eu possa convergir com o partido.”

De acordo com ela, o processo eleitoral mostra que a sociedade amadureceu porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (detentor de 80% de aprovação popular) “não conseguiu fazer com que sua candidata fosse eleita no primeiro turno” e o segundo colocado só foi para o segundo turno graças aos eleitores do PV. “(O segundo turno) é uma bênção, é uma aprendizagem.”

Ela lembrou que no sábado, um dia antes do primeiro turno, visitou cinco Estados e se esforçou ao máximo para chegar ao segundo turno. “Eu lutei até o final”, comentou, em tom melancólico.