O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, queixou-se nesta sexta-feira (23) que a Corte está sofrendo um “patrulhamento sem igual” pelas decisões que toma e disse que a sociedade não pode presumir “que todos sejam salafrários”. Ele se queixou de manifestações que tem recebido e declarou que pediu para excluir duas contas de e-mail e para trocar números de seus telefones, tal era a quantidade de mensagens que lhe foram endereçadas.
“O patrulhamento é muito grande. A sociedade tem que pensar que existem homens de bem. Não pode a sociedade presumir que todos sejam salafrários até que provem o contrário”, afirmou o ministro durante discurso no 15º Colóquio da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, realizado na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio de Janeiro. “Nunca vi coisa igual. Nos dois endereços na internet, (vinha recebendo) cerca de mil mensagens por dia. E mensagens diferentes, o que revelam que a origem não é a mesma” – ele esclareceu que não se tratavam de ameaças.
Mello afirmou ainda que está “sendo crucificado” por ter deixado a sessão do Supremo na quinta-feira (22). “Estou sendo crucificado como culpado pelo adiamento do julgamento do habeas corpus do presidente Lula, porque sou um cumpridor de compromissos”, disse o ministro. “Vi hoje nos jornais que estou sendo apontado como culpado, por honrar um compromisso que assumi com muita anterioridade, apontado como o causador do adiamento do processo contra o ex-presidente Lula, como se fosse para ontem o julgamento. O Supremo não tem apenas um processo, tem milhares de processos.”
Segundo o ministro, seu voo para o Rio de Janeiro estava marcado para às 19h40 de quinta e ele já havia feito o check-in – Mello chegou a mostrar uma folha durante o julgamento, para provar o que dizia – quando foi colocado em votação o pedido de adiamento da sessão. A proposta acabou aprovada.