Para garantir um bom desempenho na maratona de entrevistas, discursos e gravações para o programa eleitoral no rádio e na TV, os candidatos à Presidência da República misturam promessas pontuais para públicos específicos com um cardápio fixo de clichês.
Em quase todas as intervenções de Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves é possível identificar um conjunto de expressões e frases que formam a base de suas campanhas e ajudam a construir a imagem que cada candidato quer passar.
Com um vocabulário próprio, já conhecido pela alcunha de “marinês”, a candidata do PSB costuma usar em seus discursos expressões inusitadas e frases rebuscadas. Desde a morte de Eduardo Campos, Marina começa todo discurso cumprimentando seus companheiros de “luta, de luto e de paz”.
Programática
Ao se filiar ao PSB e declarar apoio a Campos, em outubro do ano passado, Marina não fez uma simples aliança, mas sim uma “aliança programática”, em que um dos eixos centrais seria “democratizar a democracia”. A expressão aparece, inclusive, no programa apresentado na sexta-feira, 29, pela candidata.
Crítica da “velha política”, ela costuma usar uma sequência de expressões para dizer o que deseja para o Brasil. Por exemplo, ela diz esperar construir um País “socialmente justo, ambientalmente sustentável, economicamente próspero”. Às vezes usa variáveis como “culturalmente diverso” ou “politicamente democrático”.
Marina também costuma repetir que quem vai ganhar essas eleições não são “as velhas estruturas”, mas sim uma “nova postura” do cidadão brasileiro junto ao povo. Marina também adotou como sua a frase dita por Campos no Jornal Nacional, um dia antes de morrer: “Não vamos desistir do Brasil”.
Legado
Já Dilma Rousseff invariavelmente fala dos “12 anos do meu governo e do governo do presidente Lula”. Quando surge o tema da estagnação econômica, ela saca do repertório a mesma frase: “O Brasil enfrentou/enfrenta a mais grave crise econômica internacional…”. Se o interlocutor insiste no tema, a presidente saca um segundo recurso: reclamar dos “pessimistas” ou do “pessimismo”.
Entre os vícios de linguagem, Dilma costuma fazer perguntas para si nas falas e, quando se confunde, faz uma breve pausa.
Quando precisa subir o tom contra os adversários, entra a indefectível frase que a acompanha desde 2010: “Nós soubemos fazer o que eles não souberam”. Ou uma variação dela: “Eles (os tucanos) quebraram três vezes o País”, afirma, referindo-se a idas do Brasil ao Fundo Monetário Internacional (FMI) durante a gestão Fernando Henrique Cardoso. “Levaram o Brasil ao desemprego e ao arrocho salarial”, acrescenta.
Dos três principais candidatos ao Planalto, Aécio Neves não fica atrás no abuso de bordões pré-fabricados. Seu favorito é usado praticamente em todas as suas falas desde o começo da pré-campanha, ainda no início do ano: “O Brasil é um cemitério de obras inacabadas”.
Mais pessoas
Com pronunciamentos divididos por temas, Aécio nunca deixa de usar uma série de frases elaboradas sob medida para cada um dos eixos de sua campanha. Se o assunto é a máquina pública, certamente ele dirá que vai fazer uma administração “que gasta menos com o governo para gastar mais com as pessoas”. Quando o PT entra na mira, ele diz que o “ciclo do PT/governo federal terminou/fracassou” e emenda: “É preciso criar um novo ciclo, de retomada do crescimento”.
Repetição
Para Vera Chaia, cientista política e coordenadora do Núcleo de Estudos de Arte, Mídia e Política da PUC de São Paulo, a reiteração de frases e expressões ajudam o candidato a ligar a imagem que deseja passar ao eleitor a uma mensagem de fácil compreensão. “Isso marca. A repetição é fundamental em uma propaganda, seja de um produto ou de um candidato”, afirma. “Quando a Marina fala em ‘nova política’ é um estímulo para o eleitor começar a se perguntar o que é isso.”
Mas a professora observa a necessidade de o candidato ter clara a explicação dos termos. “Dilma e Aécio já estão questionando. É governar sem coligações fortes? É manter a pureza na maneira de agir? Ela (Marina) tem de responder, se não ficam essas indagações e cada um pode interpretar da maneira que quiser.”
Para a professora, é válido renovar o repertório de frases feitas durante a campanha, mas a repetição não corre o risco de cansar o eleitor. “É importante dosar, mas a repetição é fundamental. Basta lembrar como alguns jingles pegaram para a vida inteira”, diz em referência, por exemplo, ao “varre, varre, vassourinha”, de Jânio Quadros, em 1960, e o “ey, ey, Eymael”, do eterno candidato à Presidência José Eymael (PSDC). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.