Dois maiores partidos do Centrão, PP e PR cobram do presidente Michel Temer cargos no segundo e terceiro escalões do governo em troca de terem ajudado o peemedebista a barrar a denúncia por corrupção passiva na Câmara dos Deputados na semana passada.
Com 46 deputados, o PP cobra de Temer o comando da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), segundo apurou o Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. O órgão hoje é controlado por uma aliada do senador Antonio Carlos Valadares (SE), do PSB, partido que já desembarcou do governo, embora ainda mantenha o Ministério de Minas e Energia.
A demanda do PP pela Codevasf foi levada ao Planalto pelo próprio presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), que quer indicar um aliado. O cargo é considerado importante para o senador, uma vez que o órgão tem forte capilaridade política no Nordeste. No fim do governo Dilma, Nogueira chegou a indicar o presidente da companhia.
O senador piauiense também fez chegar a Temer o desejo da legenda pelo Ministério das Cidades, hoje comandado pelo PSDB. O PP, que já comanda os ministérios da Saúde e da Agricultura e a Caixa Econômica, alega que merece uma compensação por ter sido um dos mais fiéis a Temer na votação da denúncia.
Dos 44 deputados do PP que participaram da votação, 37 votaram para barrar a denúncia contra Temer e apenas nove a favor. Isso equivalente a uma taxa de fidelidade de 84%, maior do que a do DEM (79,3%) e de outros partidos do Centrão, como PR (75%) e PSD (61,1%), sigla que também cobiça o comando das Cidades.
Portos
Com uma bancada de 38 deputados, o PR, por sua vez, cobra de Temer a Secretaria dos Portos. Embora seja vinculada ao Ministério dos Transportes, que já está com o partido, a secretaria é comandada pelo ex-senador Luiz Otávio, que chegou ao posto por indicação dos senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), ambos do PMDB.
Nas conversas com auxiliares de Temer, líderes do Centrão ameaçam votar contra matérias de interesse do governo no Congresso, principalmente a reforma da Previdência, se não receberem os cargos. O grupo defende punição aos “infiéis”, sob o argumento de que, se Temer não fizer isso, suas bancadas não se sentirão estimuladas a votar a favor da proposta.
Para lideranças do Centrão, se não houver retaliação, os deputados fiéis ao Planalto acabarão cedendo às pressões de suas bases eleitorais para votar contra a reforma. O pensamento seria: “se eu posso manter os cargos votando contra, porque vou votar a favor e ficar apanhando nas minhas bases?”.
Punições aos infiés
Até agora, o governo só puniu deputados do PR e PSDB com a exoneração de seus aliados de cargos no segundo e terceiro escalões do governo. As exonerações começaram no mesmo dia da votação da denúncia contra Temer no plenário da Câmara, na última quarta-feira, 2.
Naquele dia, o governo exonerou Thiago Maranhão Pereira Diniz Serrano do cargo de superintendente regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) da Paraíba. Maranhão tinha sido indicado para o cargo pelo deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB), que votou contra Temer.
Na sexta-feira, 4, o governo também exonerou Vissilar Pretto do cargo de superintendente regional do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de Santa Catarina. A demissão foi uma retaliação ao deputado Jorginho Mello (SC), um dos nove deputados do PR que votaram pela abertura de investigação contra Temer.