O racha causado pela disputa a líder do PMDB ganhou nesta terça-feira um capítulo jurídico e setores do partido pedem uma intervenção de emergência do Palácio do Planalto. Embora tenha mantido um discurso pacificador e de entendimento após ser derrotado por Eduardo Cunha (RJ) na disputa pela liderança, o deputado Sandro Mabel (GO) entrou com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) em que pede a anulação do processo.
Na ação, Mabel alega que os suplentes Marcelo Guimarães Filho (BA) e Leomar Quintanilha (TO) foram empossados “indevidamente” nas vagas de João Carlos Bacelar (PR/BA) e Lázaro Botelho (PP/TO), respectivamente. A manobra foi promovida de última hora para arrebanhar mais votos para Cunha, na eleição do último domingo.
“A posse de parlamentares, ainda que em situações excepcionais, o que não foi o caso, somente poderia ser efetivada pelo Presidente da Mesa, justamente por ele estar em exercício de suas prerrogativas atinentes ao cargo, na forma do Regimento Interno. Porém foi levada a efeito por outro membro da Mesa Diretora”, argumenta Mabel no documento, em referência à deputada Rose de Freitas (PMDB/ES), que empossou os parlamentares em pleno sábado, véspera da escolha do novo líder do partido.
Apesar do descontentamento com a vitória de Cunha, o mandado de segurança foi impetrado somente na segunda-feira (04), depois que a eleição de Henrique Alves (RN) para a Presidência da Câmara foi confirmada – havia um temor de que o pleito fosse para o segundo turno com a rixa na sigla, contando ainda com o descontentamento de integrantes das bases do partido com os acordos feitos para eleger o peemedebista.
O pedido para aguardar a eleição à presidência da Casa partiu do vice-presidente da República, Michel Temer, que se encontrou com Mabel no domingo. “Ele (Eduardo Cunha) fez ameaças, dizendo que prejudicaria a eleição de Henrique (caso não ganhasse a liderança). O Michel e o Henrique então me pediram para aguardar e fiz isso pelo projeto maior do partido, que é ter o Henrique na presidência da Casa”, disse.
Após a contagem de votos – 46 a 32 em favor de Cunha -, no domingo (03), Mabel expressou os motivos de sua derrota. “Quando você é intitulado candidato de governo, fica um pouco mais difícil, tendo uma bancada que tem uma porção de coisas que não são assentidas. O discurso dele, mais forte, se posicionando contra o governo, o ajudou.” Na ocasião, ele disse que a bancada não se dividiria.
Ausência
Não foi, porém, o que se percebeu nesta terça quando Mabel e outros 29 deputados não compareceram à primeira reunião de Cunha à frente do partido. “Ele convocou esse encontro para apresentar suas intenções como líder, mas deveria acender o sinal de alerta com a quantidade de faltas que presenciou já nesse primeiro dia. Ele tem que entender que não são gritos que vão fazer com que a bancada se una”, destacou Mabel.
A briga é acompanhada de perto pelo Planalto, que evita intromissões diretas, mas pode escalar o vice-presidente, Michel Temer, para apaziguar os ânimos dentro do partido. O temor é que o racha na segunda maior bancada da Câmara – o PMDB tem 80 deputados – prejudique votações de matérias polêmicas, de interesse do governo.
O líder eleito do PMDB, Eduardo Cunha, foi procurado pela reportagem mas não retornou as solicitações para tratar do assunto.