Depois de fazer duras críticas ao PT e ao governo Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará pôr um freio de arrumação na crise política. Na semana que vem, Lula vai se reunir com as bancadas do PT no Senado e na Câmara, em Brasília.
A reunião está prevista para a próxima segunda-feira, 29, mas a data pode ser alterada. Nesse dia, a presidente Dilma Rousseff estará em Nova York e, à noite, em Washington, onde se encontrará com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Lula está preocupado com o que chama de “desarticulação” do PT e “paralisia” do governo diante da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Quer unificar o discurso e acertar o passo petista no Congresso. Não esconde, por exemplo, a contrariedade com os rumos da CPI da Petrobrás, que convocou para depor o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
Para Lula, o PT precisa sair da defensiva em relação à Lava Jato e melhorar a relação com o PMDB, que vem impondo derrotas ao governo no Congresso. Nesta quarta-feira, por exemplo, a Câmara aprovou emenda que vinculou a política de valorização do salário mínimo aos reajustes das aposentadorias graças à traição de partidos da base aliada, como o PMDB. Houve, também defecções na própria bancada do PT.
Nos últimos dias, Lula fez gestos que irritaram Dilma e causaram mal estar no PT. Diante da queda de popularidade e dos baixos índices de aprovação do governo, o ex-presidente disse que tanto ele quanto Dilma estavam “no volume morto” e o PT, “abaixo do volume morto”. Afirmou, ainda, que a gestão de sua afilhada era um “governo de mudos” e que o PT está “velho” e “só pensa em cargos”.
“Temos que definir se queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto”, afirmou Lula, nesta segunda-feira.
Embora Dilma tenha dito que o ex-presidente tem “todo o direito de fazer críticas”, o movimento dele contrariou o Palácio do Planalto. Nos bastidores, ministros do PT observaram que Lula toma a dianteira para se afastar dos escândalos de corrupção que abalam o partido e aponta falhas do governo na tentativa de se preservar politicamente. Apesar da crise, Lula ainda é, hoje, o nome mais forte do PT para disputar a sucessão de Dilma, em 2018. A candidatura, porém, depende do êxito do governo e da recuperação da imagem do PT, desgastada com um escândalo após o outro.
No Planalto, auxiliares da presidente dizem que as críticas de Lula prejudicam o governo e abafam a “agenda positiva” das concessões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, jogando luz sobre a divisão entre “criador” e “criatura”.
“O PT não pode só dizer amém ao governo Dilma. É preciso mais independência e Lula está certo ao dar essa chacoalhada no partido”,afirmou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Eu acho que não dá para falar em volume morto. Tem muita água para rolar embaixo dessa ponte”, disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
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