Depois de deixar a Presidência da República, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai descansar, mas não se afastará da política. Ele pretende repassar sua experiência para países pobres da América Latina e África.
“Estou prometendo para a minha mulher desde 1978, que eu prometi largar o sindicato, voltar para casa. Já são 32 anos e eu estou cada vez mais distante, cada vez viajando mais. Então quero parar um pouco dentro de casa, sabendo que sou dirigente político e vou continuar fazendo política. Vou continuar viajando o Brasil, vou continuar convivendo com meus amigos, ajudando naquilo que for possível ajudar. Eu não vou parar. Até porque eu tenho muita contribuição a dar para o País. Eu quero trabalhar muito e passar um pouco da experiência nossa para países africanos, para a América Latina, países mais pobres”.
Lula afirmou ainda que sentirá saudade do cargo de presidente e comparou seus oito anos de governo com os oito anos de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. “Vou ficar com saudades. Primeiro porque não sinto nenhum peso em governar um País. Sinto responsabilidade e um prazer pelas coisas que estou fazendo. Acho que não vou morrer de saudade, mas vou ter saudade das coisas, das convivências, das andanças que eu faço pelo País e de colher o sucesso que estamos colhendo”.
“Pegue os oito anos de Fernando Henrique Cardoso e veja quanto de dinheiro do governo federal veio para o Ceará. E pegue nos meus oito anos”, disse. Queixando-se do excesso de burocracia no Brasil, disse que fazer uma obra de infraestrutura hoje é mais complicado que a 50 anos. “Hoje para a gente fazer uma obra não é tão fácil como há 50 anos atrás. Hoje, entre você ter o projeto dessa obra e fazê-la você tem que passar pelo crivo do Ministério Público, depois pelo crivo do Tribunal de Contas do Estado, da União, do Ibama estadual, do Ibama federal. Depois de tudo, você faz licitação. Aí uma empresa que perde entra na Justiça, e a obra fica um ano, dois anos esperando começar.”
Com relação aos seus dois mandados, disse que sentiu maior dificuldade no primeiro. “Eu tinha consciência que qualquer representante da elite brasileira pode governar esse País, quebrar esse País como muitos quebraram, se afastam do governo, vão embora para o exterior, passam dois, três anos lá fora estudando, ensinando o que não souberam fazer aqui. Aí volta e o povo esquece. Se candidata outra vez. Tem gente hoje rico, dando palestra; pessoas que a inflação estava 80% quando era ministro da Fazenda e fica dando palestra sobre estabilidade econômica. Sabe, então eu te confesso uma coisa: eu tinha consciência que eu não podia errar porque eu nunca perdi de vista de onde eu vim e para onde eu vou voltar. Eu tenho lado, eu tenho origem e eu tenho orgulho dela e sei que vou voltar para lá. Quando terminar meu mandato não vou para Paris, não vou para Londres. Eu vou ficar no Brasil”, disse Lula.