Em queda nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSDB, José Serra, expôs hoje uma das principais preocupações da campanha tucana: o poder de transferência de prestígio – e de votos – do presidente Luiz Inácio da Lula para Dilma Rousseff (PT).
Em palestra a 150 diretores e presidentes de empresas do setor de máquinas e equipamentos, em São Paulo, Serra alertou: “Ninguém governa um município, um Estado ou um país à distância”. “Por mais que se queira pensar o contrário, não se terceiriza o comando, a gente vai ter que ter isso muito presente daqui em diante”.
O tucano usou uma analogia futebolística para tornar mais didático o aviso. Comparou o presidente a um técnico bem-sucedido que, ao ser chamado para treinar outro time, promete continuar a orientar a antiga equipe à distância.
“Isso é do mesmo realismo que imaginar que o Brasil possa ser governado pelo Lula fora do governo”. E aproveitou para fazer um apelo: “Levo bronca de muita gente porque vou fazer palestra e não peço voto, então aqui vou pedir também voto”. Seguiram-se risos e aplausos.
Confortável diante de uma plateia simpática a ele, Serra falou por 45 minutos. O discurso foi pontuado por críticas à condução econômica do governo federal nas áreas de macroeconomia, infraestrutura, indústria e comércio exterior. “Falta uma política nacional de desenvolvimento”, afirmou. “Produzir no Brasil é arriscado, agora produzir bens de capital no Brasil já é temerário”. “As oscilações são mortais”, segundo o tucano.
Futuro
O candidato lançou dúvida sobre o futuro econômico do País: “No curto prazo, as coisas vão bem, o problema é que a gente tem sempre que olhar o dia de amanhã, para que o emprego de hoje não seja perdido amanhã”. Ele citou a adversária Dilma Rousseff duas vezes.
Disse que a petista considerava “boa” a carga tributária brasileira e que, em um debate, taxou como desatualizado um dado citado por ele. “Em 2009 e 2010 podemos ter ultrapassado a República Dominicana, mas continuamos na lanterninha em investimento governamental”.
Serra voltou a atacar a política de defesa comercial do governo Lula. “Não temos uma alfândega bem organizada”. O tucano defendeu uma desoneração de impostos “firme e inteligente”, feita setor a setor.
Diante do pedido dos empresários, Serra prometeu “manter e ampliar” o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), linha de financiamento para a produção, aquisição e exportação de bens de capital e para inovação tecnológica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O candidato chegou com uma hora de atraso ao evento, promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Assim que pegou o microfone, desculpou-se: “Cheguei às 5 horas da manhã do Rio Grande do Norte e ainda tive que fazer gravação para o programa eleitoral antes de vir aqui”. “Minha voz, com muitos voos, fica mais pastosa, mas vai passando ao longo do dia”.