O executivo da Odebrecht João Carlos Mariz Nogueira relatou em delação premiada ter presenciado, em 2014, em Cuba, conversa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o representante do Itamaraty Marcelo Câmara, na qual o petista teria afirmado ter levado ao presidente cubano, Raúl Castro, uma proposta da empreiteira que ajudaria a viabilizar uma linha de crédito para a construção de uma zona franca industrial. A obra seria um anexo do Porto de Mariel, que também foi construído pela Odebrecht. O negócio, porém, não foi levado adiante.

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O ex-presidente estava no país para ministrar palestras que contavam com financiamento da construtora. O delator diz ter acompanhado e instruído Lula a fazer a proposta em reunião com o então enviado do Itamaraty Marcelo Câmara. Ao fim da passagem pela ilha, o petista teria dito ao representante do Ministério das Relações Exteriores que Castro gostou da proposta elaborada pela Odebrecht.

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Em 2015, uma reportagem da revista Época revelou que um telegrama foi enviado por Câmara ao Brasil, indicando que Lula teria tratado sobre a proposta da empreiteira com o líder cubano e que, em seguida, falaria sobre o assunto com a então presidente Dilma Rousseff.

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Segundo o delator, após a conclusão do Porto Mariel, o governo cubano havia “provocado” a Odebrecht para construir uma zona franca industrial no país. No entanto, havia restrições do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a respeito da obra. Para liberar os créditos, segundo o executivo, o banco exigia o “robustecimento das garantias”.

“Como eu era diretor de crédito à exportação, coube a mim explicar ao ex-presidente Lula as alternativas que nós vislumbrávamos – nós, Odebrecht – para contribuir a questão das garantias. Tínhamos vislumbrado quatro ou cinco alternativas para essas garantias”, relatou.

Reunião. As instruções teriam sido passadas pelo executivo da Odebrecht ao ex-presidente já na viagem a Cuba, na mesma época em que Lula teria dado palestras na ilha financiadas pela empreiteira. Em uma reunião no hotel Meliá, em Havana, com a presença do representante da Embaixada brasileira e diretores da Odebrecht, o petista teria pedido uma “atualização” de “quais são os investimentos”.

“Quando se tratou o tema das garantias, eu fiz a exposição pra ele. Ele entendeu e eu pedi que pudesse explicar ao presidente Raúl Castro e a Dilma Rousseff e, adicionalmente, pedi um dialogo direto entre os líderes. Estávamos propondo objetivamente algumas soluções sendo que duas ou três delas a gente participava. Havia um interesse empresarial objetivo”, relatou.

Uma das proposições para a viabilização das linhas de crédito pelo BNDES envolvia a compra de nafta – matéria-prima para a indústria petroquímica – pela Braskem, do grupo Odebrecht. De acordo com Mariz Nogueira, a empresa poderia comprar nafta cubana “e depositar parte do dinheiro devido a Cuba em uma conta garantia para acessar o financiamento brasileiro”.

O executivo enxergava dificuldade de aprovação do BNDES, que não queria que a “conta garantia ficasse em Cuba”, e por isso, alega ter pedido ao ex-presidente para haver um “acordo para destravar a questão”.

“Eu me lembro que o presidente Lula quando estava embarcando ou prestes a embarcar no avião, conversou com esse representante da Embaixada Marcelo Câmara e disse: ‘eu conversei com o presidente Raúl Castro, ele gostou da alternativa nafta’… Que nós compraríamos a nafta cubana”, conclui o delator. Ele ainda diz ter ouvido de Lula que “conversaria com a presidente Dilma” sobre o assunto.

Mariz Nogueira relatou que o projeto acabou não sendo levado em frente porque “os cubanos voltaram a insistir em garantia soberana, ou em conta dentro de Cuba”, e ainda avaliou que a Odebrecht teria sido surpreendida pelos “problemas de produtividade” da nafta em Cuba.

Defesas. O Estado entrou em contato com a defesa de Lula, mas não obteve resposta. A reportagem também tentou contato com Marcelo Câmara, mas ele não foi localizado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.