Foto: Aliocha Maurício |
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Stephanes aguarda ?checagem final? de seu nome antes de assumir o ministério. |
Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou para hoje o anúncio oficial do novo ministro da Agricultura. mas segundo informou um de seus interlocutores no Congresso ontem de manhã, ao governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), sua decisão é nomear o deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) para o cargo. À tarde, o próprio deputado recebeu três telefonemas do Palácio do Planalto, dando conta de que o governo estava apenas finalizando o processo de ?checagem final? de seu nome, e que sua indicação era tida como certa.
Enquanto aguardava a confirmação oficial de Stephanes e administrava resistências de setores da bancada ruralista ao nome dele, a cúpula do PMDB começou a negociar o segundo escalão. O presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), e o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), iniciaram a negociação pelo Ministério da Saúde, estimulados pelo presidente Lula que, na conversa da véspera sobre o ministério, reforçara o pedido de apoio e de parceria do PMDB com o novo ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Além do reconhecimento da bancada da Câmara, por seu perfil técnico e competente, Stephanes contou com o aval do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues e o apadrinhamento dos governadores Roberto Requião e Blairo Maggi (PR-MT). A bancada ruralista teme apenas que ele adote a postura do governador Requião, contra os transgênicos.
O PMDB não vê a hora de ocupar ao menos boa parte das delegacias estaduais de Agricultura, mas isto só será tratado depois da posse do novo ministro. Interlocutores ouvidos ontem apontam, por exemplo, que o presidente do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), Décio Coutinho, poderia assumir a Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério, sob a chancela do governador Blairo Maggi.
Maggi ainda indicaria a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), um dos cargos mais desejados, por controlar um estoque estimado hoje em 5 milhões de toneladas de grãos e ainda por propor e atuar na implementação de políticas agrícolas para a compra e distribuição de alimentos. O presidente da Conab, Jacinto Ferreira, foi indicado pelo atual ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto, é funcionário de carreira e deve deixar o comando da empresa. A única dificuldade da indicação do governador do Mato Grosso para a Conab seria a pressão de movimentos ligados à agricultura familiar e de alas mais radicais do PT.
A compra de mantimentos, bem como a distribuição de cestas básicas, para movimentos ligados à agricultura familiar, também é feita pela companhia. Outra função cobiçada é a de secretário-executivo do ministério, o primeiro na linha de sucessão do ministro. O comentário é de que a Região Centro-Oeste deverá indicar o nome para substituir o secretário-executivo Luiz Gomes, talvez para compensar a ratificação de Stephanes na vaga de ministro, com o aval do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB).
Na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é certo que a diretoria será substituída após a mudança no comando da Agricultura, mas ainda é indefinido se o presidente Sílvio Crestana continua. Crestana foi alçado ao cargo pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, após ele negociar com o PT e, curiosamente, ceder em troca a posição de secretário-executivo para o partido, que passou a ser ocupado à época por Pinto.
?Aborígene?
O deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), um dos integrantes da bancada ruralista na Câmara, disse ontem que o deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) – ministro da Previdência no governo Fernando Henrique Cardoso – não é do setor do agronegócio e, portanto, a indicação de seu nome pelo presidente Lula para ser ministro da Agricultura não terá o apoio dos ruralistas. ?Colocar um aborígine lá é uma desgraça para nós?, afirmou Lupion.
Na avaliação de Lupion, é fundamental que o escolhido para o cargo de ministro da Agricultura seja um produtor agrícola ou pecuário, e Stephanes não tem esse perfil. Lupion manifestou sua preferência por deputados que, segundo ele, vivem ?o dia-a-dia do setor? agrícola, como Moacir Micheletto (PR), Waldemir Moka (MS) e Valdir Colatto (SC), todos do PMDB, partido ao qual cabe, na divisão de cargos do Executivo, indicar um nome para o Ministério da Agricultura.
Estes três parlamentares integram o grupo de dez coordenadores da bancada ruralista na Câmara. ?Demos sustentação ao governo Lula durante quatro anos, com o Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura). Se Lula entender de colocar alguém que não é do ramo, ele não quer o apoio da bancada. É um desrespeito ao setor rural?, afirmou Lupion, enfatizando que a bancada ruralista reúne 220 deputados. ?Ele (Stephanes) é um homem decente, sério, bem intencionado, mas o problema é que ele não é do setor?, disse o ruralista.
