A eleição presidencial de 2010 vai entrar para a história do País como a primeira do gênero na qual alguém que não participou do pleito como candidato – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – teve papel fundamental na escolha do novo dirigente do País, a ex-ministra Dilma Rousseff, sua afilhada política, estreante na seara de uma disputa eleitoral. Dono de uma popularidade recorde, Lula não só fez sua sucessora, como também levou um dos nomes mais fortes da oposição, o tucano José Serra, a mais uma derrota nas urnas numa campanha para o Palácio do Planalto, a primeira foi contra Lula em 2002.
Cientistas políticos consultados pela Agência Estado admitem que nunca na história deste País um presidente conseguiu transferir tamanho porcentual de intenção de votos para seu candidato e influenciar o pleito regionalmente. E mais uma vez, a sucessão de escândalos envolvendo figuras importantes de sua administração, como a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, não foram suficientes para abalar os seus elevados índices de popularidade. É o que o cientista político e pesquisador da PUC e FGV de São Paulo Marco Antônio Carvalho Teixeira classifica de “efeito teflon”, onde nada de negativo gruda na imagem do presidente. E, neste pleito, valeu também para a sua afilhada política e nova presidente do País.
Segundo Carvalho Teixeira, o fator predominante que ancorou toda essa popularidade do presidente resume-se a um só: a economia brasileira em alta. “Isso leva comida à mesa do brasileiro e dinheiro no bolso, motivos suficientes para o eleitorado, sobretudo das camadas mais populares, terem apostado na continuidade e na candidata de Lula”.
Apesar do fator predominante da economia em alta, o sociólogo Carlos Melo, professor de Sociologia e Política do Insper, faz um alerta de que a popularidade de Lula, ancorada na economia, não será suficiente para garantir o grande desafio que o Brasil enfrentará nas próximas décadas.
Carlos Melo destaca que o Brasil precisa dar um salto qualitativo nos próximos anos e isso exigirá planejamento e bons projetos de infraestrutura, inteligência, coesão, liderança e instituições sólidas. E, no seu entender, esse debate ainda não ocorreu no País, principalmente numa campanha presidencial que teve como foco principal os escândalos e discursos vazios.
“O desenvolvimento econômico e a inclusão social, que até aqui apenas ensaiamos, dependerão muito da condução política que se dê ao País, incluindo reformas, boas escolhas, articulação de qualidade e visão de futuro”, reitera Melo. Para os analistas, a estrela do presidente Lula tem que brilhar também na administração de Dilma, pois o sucesso de sua gestão vai depender muito da sua capacidade de articulação política.