O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez hoje um balanço da política externa do seu governo, com críticas irônicas à atuação do governo anterior no cenário internacional. Na reta final do seu mandato e em pleno processo eleitoral, Lula disse que, em sete anos de governo, nunca permitiu que ministros tirassem o sapato ao passarem pelas alfândegas de outros países.
Ele se referia, sem citar nomes, ao ex-chanceler de Fernando Henrique Cardoso, Celso Lafer, que foi obrigado a tirar os sapatos ao passar por revista em um aeroporto nos Estados Unidos. “Eu disse para os meus ministros que aquele que tirasse o sapato deixaria de ser ministro”, afirmou Lula, em discurso de improviso na cerimônia de formatura de novos diplomatas, no Palácio do Itamaraty.
Ele disse que seu governo permitiu que o País tivesse maior projeção nos fóruns internacionais. Ressaltou ainda ter criado 34 embaixadas e garantido vitórias, como a do Rio de Janeiro, que sediará as Olimpíadas de 2016.
Ao defender sua política externa, Lula reclamou que muitos críticos queriam que ele “esganasse” os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Paraguai, Fernando Lugo, nas questões do gás e da energia de Itaipu, respectivamente. Lula disse que o Brasil precisa ser mais generoso com países pobres e que as críticas ocorrem porque o Brasil passou a incomodar “muita gente”.
Ele lamentou não ter conseguido fechar o acordo comercial da rodada Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), para acabar com os subsídios. Ele culpou dirigentes da Índia e dos Estados Unidos que, por “questões eleitorais”, travaram as negociações. “O que é triste é que já se passaram dois anos e ninguém mais tocou no assunto”, lamentou.
Lula também reclamou das críticas à sua política de aproximação com os países africanos. “Vocês não sabem quantas críticas recebemos quando fomos para o Gabão. Diplomacia era ir apenas para os Estados Unidos, Paris, Buenos Aires. E eu vou terminar o meu mandato visitando 25 países africanos”, comemorou.
Complexo de vira-lata
Em tom de brincadeira, Lula disse que hoje não é mais tão chique ter um passaporte vermelho, que é a cor do passaporte diplomático. “Hoje tem gente que desconfia muito mais do vermelho do que do azul”. Ao fazer comparações sutis com a política externa do governo anterior, Lula disse que, durante muito tempo, o País foi induzido a ter “complexo de vira-lata”. “Não podíamos ser ninguém”, afirmou.
Ele voltou a lembrar que num dos primeiros encontros do G8, ainda no seu primeiro ano de mandato, em 2003, se recusou a se levantar quando o então presidente dos Estados Unidos, George W.Bush, chegou atrasado a uma reunião de chefes de Estado. “Eu disse para o Celso (Amorim): Vamos ficar sentados. Ninguém se levantou quando eu cheguei. Porque a subserviência?. Não é arrogância não, é respeito”.
Ele chegou a comparar a presença brasileira no exterior ao jogador Neymar que, segundo ele, todo mundo quer na seleção. Lula disse que o Brasil deixou de ser mero coadjuvante no cenário externo. “O Brasil não é mais um mero coadjuvante, cresceu. E não se tornou importante porque tem 180 milhões de habitantes, mas porque tem políticas importantes”.