O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribui responsabilidade pelo apartamento vizinho do seu, no Edifício Green Hill, em São Bernardo do Campo, comprado em nome do sobrinho do pecuarista e amigo José Carlos Bumlai à dona Marisa Letícia, que morreu em fevereiro.

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Assim como no processo do triplex do Guarujá, em que ele foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão, por ter recebido no imóvel propinas da OAS, Lula disse que a ex-primeira dama era quem cuidava do apartamento que era usado pelos seguranças da Presidência, quando ele ocupava o Planalto, e depois foi comprado por Glauco Costamarques Bumlai e passou a ser usado por sua família.

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A acusação do Ministério Público Federal diz que o imóvel, no prédio onde Lula mora desde 1998, foi pago pela Odebrecht e colocado em nome de sobrinho de Bumlai. Os aluguéis não teriam sido pagos entre 2011 e 2015. Há um contrato de locação entregue à Lava Jato entre o sobrinho de Bumlai em nome de Dona Marisa.

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Lula ficou irritado com as perguntas de Moro sobre a falta de entrega pela defesa do ex-presidente dos comprovantes de pagamento de aluguel do apartamento.

“Vou repetir para o senhor. Nunca houve qualquer denúncia que o apartamento não estava sendo pago, seu Glauco nunca levantou… seu Glauco nunca cobrou, seu Glauco nunca me telefonou. Nem ele, nem ninguém. Pois bem, estou dizendo para o senhor que tinha uma relação da dona Marisa no contrato do aluguel, que a dona Marisa cuidava de forma responsável das coisas da casa. Só fiquei sabendo agora quando Glauco prestou depoimento.”

Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro sobre contratos entre a empreiteira e a Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal os repasses ilícitos da Odebrecht chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal. O montante, segundo a força-tarefa da Lava Jato, inclui um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo do Campo de R$ 504 mil.

Moro abriu interrogatório questionando sobre o apartamento supostamente comprado com dinheiro da Odebrecht e registrado em nome do sobrinho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, Glauco Costamarques Bumlai.

Lula disse que não conhece o sobrinho de Bumlai e que não participou de negócio de compra do imóvel. É um apartamento vizinho ao do presidente em São Bernardo, que era usado pela segurança presidencial. O ex-presidente disse que imóvel era do sobrinho e que ele quis ficar com o apartamento e alugado por ele.

“Hoje é um apartamento que está lá a minha disposição. Se permitirem que eu seja candidato em 2018, ele terá uma função política muito forte.”

Lula disse que de 2007 a 2010 quem pagava era “a segurança da Presidência”. Questionado pelo procurador da República Antonio Carlos Welter se ele nunca cogitou comprar o apartamento, o ex-presidente respondeu: “Nunca cogitei comprar o apartamento porque a dona Marisa não queria morar mais lá (no edifício em São Bernardo)”. Ele explicou que a ex-primeira-dama tinha planos de morar em São Paulo.

Moro quis saber se ele pediu a Bumlai ou ao advogado Roberto Teixeira que comprassem o apartamento.

“Acho que foi uma lógica sequencial que vinha acontecendo desde 1998. Era manter o apartamento em função da mesma visão de que por eu ser uma figura de projeção nacional era preciso que aquele apartamento não fosse ocupado por um terceiro, porque tinha muita facilidade de ver o apartamento em que moro”, argumentou Lula. “Inclusive tem uma mesma laje, e se subir na laje vai ver o meu apartamento.”

Segundo ele, chegou à Segurança da Presidência da República que o apartamento seria vendido, quando o antigo proprietário morreu, e houve a recusa da União. E que ele não soube que o imóvel foi comprado pelo sobrinho de Bumlai.

O ex-presidente diz ter tomado conhecimento de que o imóvel estava em nome de Glauco Costamarques Bumlai quando “foi feito o contrato com a dona Marisa”.

“Eu abri em 1975 uma conta conjunta com a dona Marisa para deixar ela administrar as questões da casa. Penso que fiquei próximo de 30 anos sem assinar um cheque na minha vida, porque a dona Marisa, primeiro, era muito séria no trato de dinheiro, era muito econômica, nunca tive medo de deixar um cartão de crédito com ela porque eu tinha a consciência que a dona Marisa não gastaria nada que não fosse essencial”, afirmou Lula.

“Dona Marisa ficou responsável por fazer o contrato e acertar aluguel, condomínio, IPTU e outras coisas da casa. Era tudo ela que fazia.”

Segundo ele, “na cabeça dele” o aluguel estava sendo pago regularmente.

Confissão

Na semana passada, o ex-ministro Antonio Palocci, também réu nesse processo – e condenado a 12 anos de prisão -, rompeu o silêncio, fez um relato devastador e entregou o ex-presidente, a quem atribuiu envolvimento com o que chamou de ‘pacto de sangue’ com a empreiteira Odebrecht que previa repasse de R$ 300 milhões para o governo petista e para Lula.

Além do ex-presidente e de Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, também respondem ao processo o próprio ex-ministro, o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula – que será interrogado na quarta-feira, 20 -, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros três investigados.

Palocci disse que dona Marisa era quem cuidava da escolha do terreno do Instituto junto com Bumlai e o advogado e compadre da família Roberto Teixeira – também réu nesse processo.

Lula negou que dona Marisa era quem cuidava da escolha do terreno do Instituto. (Ricardo Brandt, Julia Affonso, Luiz Vassallo, Elisa Clavery, Francisco Carlos de Assis e Ricardo Galhardo, enviados especiais)