O ex-presidente Lula afirmou à Polícia Federal que em 2018 vai ser candidato à sucessão de Dilma Rousseff. No final de seu extenso depoimento à Polícia Federal, marcado por momentos de forte tensão e irritação, o petista defendeu antigos aliados que estão presos na Operação Lava Jato – entre eles o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto – e, como se no palanque estivesse, anunciou sua candidatura daqui a dois anos. “Estava querendo descansar, vou ser candidato à Presidência em 2018 porque acho que muita gente que fez desaforo pra mim, vai aguentar desaforo daqui pra frente.”
“Vão ter que ter coragem de me tornar inelegível”, desafiou.
Alvo da Operação Aletheia, Lula foi conduzido coercitivamente pela PF para depor em uma sala no Aeroporto de Congonhas no dia 4 de março. Foram quase três horas de audiência. O petista anunciou seus planos políticos para 2018 depois de sair em defesa de Dirceu e Vaccari. “Eu tinha conhecimento que o Vaccari era um companheiro extraordinário, foi um grande dirigente sindical e foi um grande dirigente do PT. Eu não acredito que o Vaccari tenha acertado porcentual com empresa pra receber, não acredito, não acredito.”
O ex-presidente criticou a imprensa. “Acontece que no Brasil nós estamos vivendo um período, desde o Mensalão, que as pessoas não têm que ser culpada, ele não será condenado pelo julgamento apenas, ele será condenado pelas manchetes dos jornais. As manchetes dos jornais amedrontam a Polícia Federal, amedrontam o Ministério Público, amedrontam a Suprema Corte, amedrontam todo mundo, todo mundo. Você vê gente dar declaração que votou contra tal coisa porque passou uma faixa na porta da casa dele dizendo isso. Você entra com um processo defendendo um cidadão, que ainda não foi julgado, portanto ainda não é criminoso, a rede social amedronta a pessoa, ligando, passando coisa pra família. É esse país que a gente está vivendo. Então, o que eu acho que nós estamos vivendo, nós estamos vivendo uma situação em que as pessoas são condenadas antes de serem julgadas.”
Lula se reportou ao Mensalão, primeiro escândalo de seu primeiro governo (2003/2006). Segundo ele não havia provas contra os acusados de mensaleiros. “Começou com a maior denúncia de corrupção da história da humanidade, terminou com 175? com alguns milhões da Visanet, que não era empresa pública e que o dinheiro foi pago por meio de comunicação. Mas como tinham adotado a teoria da lei do domínio do fato, que foi utilizada para punir (incompreensível) na Alemanha, era preciso condenar. Então, o José Dirceu e outros companheiros estavam condenados mesmo que fossem liberados, estavam condenados. Não poderiam entrar num restaurante, não poderiam sair na rua, não poderiam ir pra lugar nenhum. É o que estão tentando fazer comigo agora, só que o que estão tentando fazer comigo vai fazer com que eu mude de posição, eu que estou velhinho, estava querendo descansar, vou ser candidato à Presidência em 2018.”
O ex-presidente falou com indignação sobre o fato de sua mulher Marisa Letícia ter sido citada na investigação. “É o seguinte, eu tenho uma história de vida, eu tenho uma história de vida, a minha mulher com 11 anos de idade já trabalhava de empregada doméstica e minha mulher prestar um depoimento sobre uma porra de um apartamento que não é nosso?! Manda a mulher do procurador vir prestar depoimento, a mãe dele. Por quê que vai minha mulher? Por que as pessoas não levam em conta a família que está lá, a molecada frequenta escola. Então, eu quero te dizer o seguinte: eu ando muito puto da vida, muito, muito zangado porque a falta de respeito e a cretinice comigo extrapolou. E olha que eu tenho me comportado, tenho tentado manter a linha, vou cumprir tudo que eu acho que tem que ser cumprido, porque nesse país ninguém cuidou mais de fazer lei pra cobrir a corrupção do que nós, ninguém, ninguém. Ninguém.”
Lula lembrou do ‘dossiê das Ilhas Cayman’, denúncia que apontava para políticos tucanos nos anos 1990 que teriam contas secretas no paraíso fiscal. “O diretor da Polícia foi afastado, imediatamente. No nosso caso, no nosso caso, duvido que um delegado tenha sido afastado pra investigar, e tem que ser assim, por isso é que eu defendo instituição séria. Agora, eu acho que era importante que todo mundo assistisse um pouco ‘Doze Anos de Escravidão’, pra ver como é que se constrói uma mentira e se condena um inocente.”
O delegado da PF disse. “Por isso que eu estou perguntando sobre o Vaccari, que eu humildemente?”
Lula respondeu mencionando o ex-líder do Governo no Senado, Delcídio Amaral (PT/MS) e Fernando Baiano, dois delatores da Lava Jato: “Qualquer bandido que for prestar delação premiada fica manchete de jornal. Não tem lá um tal de Fernando Baiano que vocês citaram aqui, que foi lá e falou. “Porque não sei que disse que o José Carlos Bumlai deu 2 milhões e 400 pra nora do Lula.” E eu tenho quatro noras e agora eu quero saber quem foi que pegou esse dinheiro. Então, esse depoimento do Delcídio ontem, essa delação premiada, ou seja, nós estamos vivendo que situação nesse país? Ou seja, não existe mais a política, não existe mais a justiça, ou seja, existe uma quantidade de mentiras.”
O delegado da PF afirmou a Lula que ‘está atrás da verdade’. E ouviu. “Se você está atrás da verdade, você mande prender um cidadão do Ministério Público, que diz que o apartamento é meu, mande prendê-lo.”
O delegado disse que ‘ouviu uma grande quantidade de colaboradores’. Quando foi tomar o depoimento de João Vaccari Neto o ex-tesoureiro do PT ficou em silêncio. “Não vou falar nada” E eu respeito isso, de verdade. Eu acho mesmo que o Estado é que tem que provar, eu concordo com isso. Se da parte do senhor, ex-presidente, falou: ‘Olha, eu não tinha conhecimento e não acredito que ele tinha’, eu vou respeitar essa posição, não é a tese que, pessoalmente, acredito, mas é a tese que eu vou respeitar.”
Lula respondeu. “Está ótimo. Eu espero que quando terminar isso aqui alguém peça desculpas. Alguém fale: ‘Desculpa, pelo amor de Deus, foi um engano”