A campanha eleitoral deste ano no Paraná teve tintas diferentes das usuais. Os candidatos à presidência da República colocaram o Estado com maior freqüência em seu roteiro de campanha. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) fizeram várias visitas a Curitiba e municípios do interior, participando de comícios, caminhadas e carreadas.
No dia 20 de junho, antes, portanto, da largada oficial, Lula fez uma visita ao Paraná e fez questão de incluir em sua agenda um encontro com Paulo Pimentel, na época aspirante à candidatura ao Senado pelo PMDB. O interesse na reunião com um dos principais empresários de comunicação do Estado foi manifestado semanas antes, quando Lula veio a Santa Catarina participar de um evento de seu partido. Numa ligação telefônica para a casa de Pimentel, Lula expressou a vontade de conversar sobre as eleições, o que efetivamente aconteceu nas dependências da TV Iguaçu, com a participação de representantes da cúpula estadual do PT: os deputados federais Padre Roque, Dr. Rosinha, Flávio Arns, o deputado estadual Angelo Vanhoni e Clair Martins e Jorge Samek, vereadores de Curitiba, entre várias outras lideranças petistas.
Estratégia
Consolidava-se assim a estratégia de aproximação do candidato a presidente com a classe empresarial, que se materializou em palestras em todas as regiões do país. No Centro Integrado de Trabalhadores e Empresários – Cietep -, em Curitiba, Lula falou sobre seus planos para uma platéia atenta e interessada. Aos poucos, foi vencendo a resistência desses segmentos da elite econômica, antes ressabiados com seu discurso socialista. E no Paraná, estado considerado tradicionalista e conservador, conquistou parcelas de um eleitorado inimaginável na época de sua primeira campanha presidencial, em 1989, contra Fernando Collor de Mello.
A formação de comitês suprapartidários Lula-Requião em inúmeros municípios levou para o petista grossas fatias da massa peemedebista, insatisfeita com o engessamento imposto pela cúpula nacional através da aliança com o PSDB em torno da candidatura José Serra. Na verdade, o encontro entre Lula e o peemedebista Roberto Requião no diretório do PMDB, em agosto deste ano, foi apenas o desfecho de um processo de aproximação entre os dois que começou no início do ano, quando Requião, após ser derrotado na tentativa de fazer com que o partido lançasse candidato próprio, passou a defender uma aliança com o PT. Requião e o candidato ao Senado, Paulo Pimentel, admitem publicamente o voto em Lula, o presidenciável que, pela primeira vez, lidera as preferências do eleitorado paranaense.
Em recente reunião de produtores agropecuários na Sociedade Rural, em Londrina, Paulo Pimentel explicou às centenas de pessoas lá reunidas porque vota em Lula. E foi aplaudido de pé: “Há alguns anos, isso seria impensável”, comenta o ex-governador. “Há uma ansiedade geral por mudança. E a mudança está firmemente associada à figura de Lula, sepultando o antigo temor que as classes produtoras tinham do PT.”.