A freada que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, dará nos próximos meses em sua campanha para cuidar da saúde – ela foi diagnosticada com um câncer no sistema linfático – deverá propiciar o tempo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa para desfazer os nós políticos regionais que a candidatura enfrenta. Antes da descoberta dos problemas de saúde da ministra, Lula decidira procurar os principais líderes do PT para debelar focos de incêndio provocados pela falta de definição dos processos sucessórios nos Estados. O presidente decidiu agir ao perceber que importantes diretórios do partido ameaçam fazer uma espécie de “corpo mole” no apoio à divulgação da candidatura de Dilma.
Nos últimos 15 dias, Lula contatou o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o governador da Bahia, Jaques Wagner, na tentativa de reverter esse cenário. Diretórios petistas importantes, como os de Minas, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul, reclamam que o governo tem priorizado a disputa à Presidência e ignorado os problemas das candidaturas do partido aos governos. Mais: acham que o Planalto até incentiva concorrentes de outros partidos da base, em detrimento dos nomes apresentados pelos petistas.
É o caso da Bahia, onde o PT gostaria que Lula reduzisse o poder do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), e priorizasse o trabalho para reeleger o governador petista Jaques Wagner. Na avaliação da cúpula do PT, Geddel poderá até ser adversário direto na sucessão do Estado ou concorrer ao Senado contra o PT. Com esse argumento, entendem que não faz sentido o governo permitir que um adversário em potencial comande um ministério importante como o de Integração Nacional.
Em Minas, a intervenção do presidente começou a provocar algum resultado. Depois que Lula entrou em campo para conter as cotoveladas entre os aliados, principalmente na seara petista, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel combinou com Patrus fazer um gesto público para indicar que o PT de Minas está unido. A preocupação com Minas, o segundo maior colégio eleitoral do País, tem motivo: enquanto Pimentel e Patrus brigam pela indicação do PT, o racha na base aliada se aprofunda, tornando cada vez mais difícil a construção de um palanque forte para a chefe da Casa Civil.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), até agora líder das pesquisas para o governo mineiro, ameaça se aliar a Aécio caso o PT não o apoie na corrida ao Palácio da Liberdade. Aécio também é pré-candidato à Presidência e promete enfrentar o governador de São Paulo, José Serra, numa prévia para a escolha do concorrente tucano ao Planalto. Para Lula, os estilhaços da briga entre as duas alas do PT e o PMDB de Hélio Costa podem atingir Dilma e acabar beneficiando os tucanos.