Diante da incerteza de apoio da senadora Marina Silva (PV) no segundo turno das eleições, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seis governadores aliados avaliaram hoje que a campanha da petista Dilma Rousseff deve ir atrás logo do eleitorado da ex-candidata. Em reunião pela manhã no Palácio da Alvorada, o grupo deixou claro que vai orientar, ao mesmo tempo, os aliados que têm boa relação com Marina a intensificar as conversas com a senadora, reconhecida como figura importante no jogo sucessório.
“A campanha tem de dialogar com o eleitor dela”, afirmou o senador e governador eleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), um dos participantes do encontro. “Todos que conhecerem a Marina precisam procurá-la, a própria Dilma tem bom contato com ela”. Casagrande relatou que o grupo avalia que a campanha de Dilma não pode ficar refém de temas religiosos, como a discussão sobre o aborto.
A candidata, segundo o senador, deve reafirmar sempre sua posição sobre o assunto, mas tem de centrar no projeto político do presidente Lula. No primeiro turno das eleições, Dilma se reuniu com representantes de igrejas evangélicas para dizer que era contra o debate sobre o plebiscito para liberar a interrupção da gravidez. “É preciso deixar claro que a disputa é de projeto político”, afirmou Casagrande. “Dilma não pode ficar presa a um tema religioso, ela tem de tocar a vida”.
Lula não tem “perspectiva” de se afastar do governo para entrar de corpo e alma na campanha, como sugerem aliados como o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). A tendência é o presidente continuar suas viagens pelo País, inaugurando obras e participando de comícios de aliados, com ou sem a presença de Dilma. Renato Casagrande relatou que Lula está “muito” animado e voltou a pedir empenho dos aliados na campanha. “O presidente e o grupo avaliam que Dilma tem que aproveitar a oportunidade para apresentar o seu projeto político”, disse o senador. “É preciso ir para as ruas”.
Também participaram do encontro no Alvorada o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, os governadores reeleitos Omar Aziz (Amazonas), Cid Gomes (Ceará), Marcelo Déda (Sergipe) e Eduardo Campos (Pernambuco). Ainda estiveram no Palácio os deputados Ciro Gomes (PSB-CE), Armando Monteiro (PTB-PE) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), os senadores Paulo Paim (PT-RS), Edison Lobão (PMDB-MA), Epitácio Cafeteira (PTB-MA), Renan Calheiros (PMDB-AL), Valdir Raupp (RO), Delcídio Amaral (PT-MS) e Cristovam Buarque (PT-DF).
Ontem, após se reunir com Dilma, em Brasília, o governador reeleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse em entrevista que a campanha petista tinha de buscar o eleitorado de Marina e reforçar as semelhanças dos projetos do PV. “As trilhas e caminhos da Marina estão muito mais próximos das trilhas (de Dilma) do que dos do outro candidato”, avaliou o governador, referindo-se ao adversário tucano José Serra.