O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um discurso atípico, disse reconhecer que seus antecessores não tiveram as mesmas condições que ele ao assumir o comando do País. “Eu tenho consciência que outros presidentes da República não tiveram as mesmas condições que eu”, afirmou. “O presidente Sarney pegou o Brasil em época de crise. O Fernando Henrique Cardoso, mesmo se quisesse fazer, não poderia, pois o Brasil estava atolado numa dívida com o FMI. Quando você deve, tem até medo de abrir a porta e o cobrador te pegar”, disse Lula.

continua após a publicidade

As declarações do presidente foram feitas em um discurso de improviso durante visita ao canteiro de obras da usina hidrelétrica de Estreito, na divisa do Maranhão com Tocantins. O presidente observou que a inauguração da obra ficará mesmo para o governo da presidente eleita, Dilma Rousseff. “É a Dilma que virá inaugurar, mas eu tinha que vir para fechar a comporta, pelo menos”, disse.

Lula lembrou que precisou desmarcar três visitas à obra por causa de problemas nas áreas ambiental e social. Comunidades ribeirinhas denunciam que estão sendo prejudicadas pela construção da usina. O presidente afirmou que recentemente foi firmado um acordo entre o consórcio Estreito Energia, construtor do projeto, e o movimento de atingidos pelas barragens. Pelo acordo, a empresa se responsabilizará por garantir a realocação das famílias e criar condições para que os pescadores continuem suas atividades. “Eu não queria violência com qualquer pessoa”, afirmou Lula.

Sarney

continua após a publicidade

Lula foi recebido no canteiro de obras da usina hidrelétrica de Estreito pela governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pelo marido dela, o empresário Jorge Murad, e pelo senador Edson Lobão (PMDB). Na visita, Lula fez referências a Lobão, que tenta voltar ao cargo de ministro de Minas e Energia, no governo Dilma, e ao senador e pai de Roseana, José Sarney, que não estava presente.

No discurso, Lula aproveitou para relatar encontros privados com Sarney, especialmente na época da crise do mensalão, em 2005. “Uma vez o Sarney foi conversar comigo e eu disse: Sarney, eu só quero que o senhor diga lá dentro (Congresso Nacional) o seguinte: Se eles (oposição) tentarem dar um passo além da institucionalidade, eles não sabem o que vai acontecer neste País”, relatou Lula. “Este País teve presidente que foi embora, presidente que se matou ou foi cassado. Eles vão saber que eu sou diferente. Que não é o Lula que está na Presidência, mas a classe trabalhadora”, afirmou.

continua após a publicidade

Lula confidenciou que ao assumir o governo tinha “muita dúvida” se teria condições de governar o País. “Este País já tinha criado as condições para o Getúlio Vargas se matar, não deixar o Juscelino assumir e cassou o João Goulart. Eu falei: o que eles vão aprontar comigo? E eles tentaram em 2005”, afirmou. “Só que eles não sabiam que este País, pela primeira vez, tinha eleito um presidente que era a encarnação do povo, lá em Brasília.”