A candidata do PSOL à Presidência da República, Luciana Genro, disse nesta sexta-feira, na série Entrevistas Estadão, que se eleita mudará o atual sistema econômico baseado no tripé macroeconômico (metas de inflação, câmbio flutuante e rigor fiscal), pois este é um modelo que tem apenas favorecido “o capital”. “Mesmo num período de crise, os bancos aumentaram os lucros. Há uma financeirização da economia muito grande, com gastos absurdos com a dívida pública”, disse.
Segundo a candidata, o principal problema brasileiro é o gasto com o pagamento da dívida pública. “O que o Brasil gasta com a previdência social é o mesmo valor do que se gasta com a dívida pública. Nós achamos que é necessário uma auditoria da dívida pública para investigar inclusive irregularidades já apontadas, um preceito da Constituição que nunca foi cumprido”, disse Luciana. “Estamos dizendo claramente de onde vamos tirar dinheiro”, afirmou, ressaltando que suspenderia o pagamento da dívida e faria uma reforma tributária.
Para Luciana, a política econômica precisa atender os interesses da maioria da população. “Nós propomos uma revolução na estrutura tributária, onde hoje quem paga mais é o pequeno trabalhador assalariado”, afirmou. Segundo ela, durante o horário eleitoral todos prometem uma série de mudanças e ninguém diz de onde vai tirar o dinheiro. A candidata defendeu ainda que a taxação de imposto sobre grandes fortunas acima de R$ 50 milhões declarados. “A própria Receita deve ter uma forma de fiscalização mais forte, aprimorando o controle sobre o patrimônio. Tamanha é a concentração de renda no País, temos 15 famílias que acumulam a riqueza que equivale a dez vezes o que se gasta com o Bolsa Família, ou seja, 260 bilhões de reais”, disse Luciana.
Questionada se isso não poderia levar o patrimônio para outros países, Luciana afirma que isso pode acontecer. “Mas hoje os principais países do mundo têm impostos muito mais fortes sobre patrimônio do que sobre consumo e sobre salário. É um projeto de lei que precisa do aval do Congresso, mas é uma medida de urgência”, diz a candidata.
Bolsa Família
A candidata defendeu o Bolsa Família, mas destacou que o volume de investimento para o programa é muito pequeno. “Hoje o investimento é de cerca de 0,5% do PIB. O valor também não é atualizado desde a época do Lula.” Para ela, o programa tem de ser visto como uma situação transitória. Eu não só manteria, como aumentaria, o valor do Bolsa Família”, completou. Já participaram da Entrevistas Estadão os candidatos do PV, Eduardo Jorge, e do PSC, Pastor Everaldo.
Ela disse também que as metas de controle da inflação são feitas, desde o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, com base em um acordo com o FMI, que prevê a utilização da taxa Selic. “Nos últimos 20 anos, uma parte significativa da inflação foi resultado dessas tarifas administradas pelo governo. É preciso ter um maior controle dessa parte da economia, o que a Dilma vem fazendo mais ou menos nos últimos anos”, emendou. “O Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo e não está segurando a inflação.”
Ela defendeu uma mudança em relação à política para os alimentos, com maior produção para consumo interno do que para a exportação. Questionada sobre a reforma agrária, disse que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra é o que tem mais propriedade para cuidar deste tema. E criticou o que considerou a concentração de terra gigantesca no Brasil. Apesar da crítica, disse que ninguém vai sair expropriando terra do dia para a noite. E defendeu a necessidade de se abrir um diálogo com a população brasileira sobre se é justo manter essa atual concentração de terras no Brasil.
Modelo
Segundo ela, o País tem hoje um modelo agrícola voltado para commodities e para exportação. “É necessária a reforma agrária nessas terras que não correspondem à sua função social, como os grandes latifúndios”, frisou. E disse crer que, para baixar a inflação dos alimentos, “é preciso tornar a terra mais produtiva para consumo interno”.
Luciana é a terceira candidata ao Palácio do Planalto a participar da série Entrevistas Estadão, que também já recebeu os principais candidatos ao governo de São Paulo. A transmissão é feita pelo portal estadao.com.br e pelo canal do Estadão no YouTube. Já participaram os candidatos do PV, Eduardo Jorge, e do PSC, Pastor Everaldo. Na próxima quarta-feira, 27, será a vez do presidenciável do PSDB, senador Aécio Neves, cuja entrevista será realizada no auditório do Grupo Estado.