A história da CPI estadual do Banestado, publicada no livro Histórias sobre corrupção em Ganância há menos de duas semanas, reúne as investigações da comissão que apontaram fraudes e falhas na gestão do banco, deixando um prejuízo de R$ 19 bilhões aos cofres públicos. Na obra, o jornalista Wilson J. Gasino conta como foi possível que o Banestado passasse de um lucro de R$ 400 milhões em 1994, para um rombo de R$ 1,7 bilhão em 1998.
A comissão parlamentar de inquérito foi proposta e presidida pelo deputado Neivo Beraldin (PDT), em 2003, procurando responder três perguntas: por que o Banestado quebrou? Por que foi saneado? E porque, depois de saneado, foi vendido? Após nove meses de trabalho, em que foram ouvidas dezenas de pessoas e mais de 120 mil páginas de documentos tiveram de ser analisados, a CPI entregou seu relatório final, com 1.142 páginas, em dezembro de 2003. O relatório foi encaminhado ao Ministério Público que propôs várias ações, das quais algumas já resultaram em condenações de diretores e empresários, porém nenhuma teve sentença definitiva.
Em suas análises, segundo Gasino, ficou claro o processo criminoso da quebra, do saneamento e da privatização do Banco Banestado, na época do governo de Jaime Lerner. ?Isso aconteceu para ser uma queima de arquivo. Os envolvidos acreditavam que no momento que privatizasse, tudo se encerraria. A CPI mostrou que foi um processo criminoso, mas a mensagem não foi devidamente captada pela população em função da divulgação picada?, explica o jornalista.
Resultado de mais de seis meses de pesquisas na documentação da CPI e de conversas com o deputado Neivo Beraldin, segundo Gasino, o objetivo de seu livro é o de narrar a CPI do Banestado de modo a reunir as informações fragmentadas sobre a comissão numa obra coesa, dando o nome dos envolvidos – funcionários, diretores, empresários e políticos responsáveis. ?A imprensa diária cobriu os trabalhos da comissão quase que diariamente. A minha idéia foi a de unificar a história. Assim ela ganha um peso maior, pois quando é recebida em doses homeopáticas é mais difícil de se sentir o impacto?, diz o autor.
Para ele, a sua obra é o registro histórico de um fato grave que ainda não tinha a devida publicidade. ?O trabalho de pesquisa e de escrita do livro foi uma coisa que marcou. Trouxe problema tanto para o Neivo Beraldin, quanto para mim?, comenta. Gasino explica que várias vezes em sua pesquisa ele tinha a impressão de ser visto por políticos como se fosse ele quem estava fazendo coisas erradas. ?Mas é preciso que as pessoas prestem contas à sociedade, é preciso que seja devolvido o dinheiro desviado, é preciso que seja resgatado?, diz.
Não foi só no processo de pesquisa que houve pressão. Beraldin conta no livro, que no tempo enquanto houve a CPI, as pressões políticas foram muito duras para sua família, pois precisavam sair acompanhados de segurança. ?Aprendi realmente a valorizar a liberdade?, diz o deputado.
Reflexos
A privatização do Banestado traz conseqüências para a sociedade paranaense e para o governo do Estado ainda hoje. Gasino lembra do processo de saneamento, no qual o Banestado recebeu R$ 5,6 bilhões de empréstimo do Banco Central, a fim de que as contas ficassem em ordem, para logo em seguida ser vendido por 1,6 bilhão. ?Para saudar essa dívida, o Estado está pagando prestações mensais reajustáveis pela taxa Selic, que hoje se encontram na casa dos R$ 52 milhões. E continuará pagando até 2029?.
Outro reflexo do processo de privatização do Banestado que persiste hoje, envolve o resgate de títulos do Itaú por parte do governo estadual. ?Há ações em andamento na Justiça. Porém, se o Estado perdê-las e não pagar o Itaú, o banco fica com as ações na Copel?, explica. Segundo o jornalista, ao ler o relatório da CPI, depreende-se que alguém ganhou com isso. ?Claramente foi tudo planejado para que fosse feita a privatização?, afirmou.
