O recuo do deputado licenciado André Vargas (PT-PR) de abrir mão do mandato causou “constrangimento” em parte da cúpula do PT e levou a lideranças da legenda a defenderem publicamente a renúncia do petista ao cargo na Câmara.
Por dois dias seguidos, Vargas chegou a sinalizar que iria deixar o mandato, mas optou por apenas oficializar a saída da vice-presidência da Casa, o que ocorreu na tarde desta quarta-feira, após um servidor do gabinete dele entregar uma carta à Mesa Diretora. Ao contrário dos dias anteriores, em que recorreu às redes sociais, mensagens de texto e notas para dar declarações em sua defesa, hoje o petista optou pelo silêncio.
As idas e vindas de Vargas passaram, no entanto, a ser alvo de crítica do próprio presidente nacional do PT, Rui Falcão. “Acho que ele já deveria ter renunciado”, disse o dirigente. Falcão ressaltou, porém, que a renúncia seria uma decisão pessoal e que nem ele nem o partido poderiam obrigar o deputado a tomar tal medida. A ressalva, no entanto, veio seguida da seguinte afirmação: “Mas seria bom para ele se o fizesse. E agora”.
Demonstrando sintonia com o recado de Falcão, o líder do PT na Câmara, Vicentinho (PT-SP), também subiu o tom e passou a defender abertamente que André Vargas deixasse o mandato. “Nossa expectativa é que ele renuncie ao mandato. Esperamos isso até para ele não ficar sangrando permanentemente. Acho que a renuncia ao mandato será o melhor para ele”, defendeu o líder do PT. “Mesmo respeitando a sua intimidade, a sua dor, a sua dificuldade acredito que é chegada a hora da renuncia ao mandato” acrescentou em um segundo momento.
O ex-líder do partido na Câmara Fernando Ferro (PE) também não poupou o “companheiro” e considerou a permanência de André Vargas no mandato como um “constrangimento’ para a bancada. “É uma situação constrangedora. Nós esperávamos que tivesse outro encaminhamento”, afirmou Ferro.
As declarações públicas dos dirigentes do PT revelam o que antes era apenas discutido nos bastidores da legenda. Desde que foi revelada a viagem que fez num jatinho emprestado pelo doleiro Alberto Yousseff, André Vargas é alvo de pressão por parte da cúpula do PT para deixar o cargo. A medida serviria para evitar possíveis impactos na campanha eleitoral do partido deste ano.
Doleiro
A relação entre André Vargas e o doleiro, preso na operação Lava Jato da Polícia Federal, é alvo de investigação no Conselho de Ética da Câmara e do próprio PT. Segundo aliados de Vargas, a tendência é que o deputado permaneça no cargo, pelo menos, até a próxima sessão do colegiado da Câmara, prevista para a próxima terça-feira (22). “Ele consultou os advogados e decidiu que vai se defender. Acho que vai aguardar até o dia 22”, disse José Mentor (PT-SP). Na ocasião, integrantes do conselho devem votar a admissibilidade do processo disciplinar contra o paranaense.
Caso o parecer pelo prosseguimento da ação seja derrubado pela maioria do integrantes da comissão, o caso deve ser arquivado, sem a necessidade da elaboração de um relatório final que poderá ser pela perda de mandato de Vargas. O presidente do conselho, Ricardo Izar (PSD-SP), não esconde o temor de alguma manobra por parte de aliados do paranaense. “Vai vir uma tropa na terça-feira, com certeza. Na pior das hipóteses vai ser apresentado um pedido de vista para ganhar mais uma semana”, avaliou Izar. Além de uma possível reviravolta no conselho, Ricardo Izar também não descarta a possibilidade de o petista recorrer a outras instâncias para tentar impedir o andamento do processo na Câmara.