Lideranças do PMDB e do Centrão, grupo do qual fazem parte PP, PSD, PR e PRB, subiram o tom nesta sexta-feira, 18, e passaram a cobrar publicamente que o PSDB entregue os quatro ministérios que possui no governo: Cidades, Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos. A cobrança é uma reação ao programa partidário veiculado nessa quinta-feira, 17, em cadeia nacional de rádio e TV, no qual os tucanos fizeram duras críticas ao governo Michel Temer.
“Se eles estão achando que o governo é tão ruim, peçam para sair, se não vira aquela história do discurso apenas”, afirmou ao Estadão/Broadcast o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), um dos vice-líderes do PMDB na Câmara. Para o parlamentar baiano, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), deveria, no mínimo, emitir uma nota dizendo que os quatro ministros do partido não representa a sigla e que, a partir daquele momento, serão da cota pessoal do presidente.
No programa de 10 minutos, o PSDB fez uma “autocrítica” por ter “aceitado o fisiologismo”. “O presidencialismo de cooptação que vigora no Brasil faliu, tendo gerado crises sucessivas e muita instabilidade política”, diz o locutor, sem citar que a sigla ocupa quatro ministérios e que seus titulares atuaram nos bastidores para, em troca de emendas parlamentares, garimpar votos para barrar na Câmara a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer.
“O PSDB faz parte do governo que ele chama de cooptação. Ou ele errou no discurso, ou foi cooptado. Se não estava concordando, não deveria nem ter aceitado os cargos”, criticou Vieira Lima. O peemedebista ressaltou que, desde o início do governo, Temer deixou claro que formaria um “ministério congressual”. “Ou seja, seria ministro quem tivesse apoio dos partidos e que esse apoio deveria ser demonstrado em voto. Em nenhum momento foi dito o contrário”, acrescentou.
Punição
O deputado João Arruda (PMDB-PR) também cobrou do presidente Michel Temer “punição” ao PSDB. Para o peemedebista paranaense, é uma “falta de coerência absurda” de Temer concordar com a punição aos seis deputados do PMDB que votaram a favor da denúncia por corrupção passiva contra ele na Câmara e não punir os tucanos, que o criticam. “Não tem sentido agir com rigor em relação aos colegas e passar a mão na cabeça de quem ocupa espaço enorme e ainda critica o modelo de gestão”, disse.
Um dos vice-líderes do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP) afirmou que o PSDB precisa resolver sua crise interna, ou será forçado a isso. “Ou eles resolvem essa DR agora ou então a própria base vai forçar uma decisão, porque não pode continuar nessa situação. Você tem uma figura que é o (Antonio) Imbassahy (ministro da Secretaria de Governo), que é o cara articulador do Executivo com Legislativo. E aí a base começa perguntar: de que lado ele está? Lógico que está conosco, mas fica uma coisa muito indisposta”.
O líder do PSD, deputado Marcos Montes (MG), defendeu que o governo precisa redimensionar a base como um todo. Para o parlamentar, o espaço dos tucanos no governo está superdimensionado. Montes disse que Temer precisa fazer uma “harmonização da base aliada”. “Isso é harmonia de governar. Eu não quero (os cargos do PSDB), mas, de repente, o PP quer, o PR quer. O que não pode é essa desconfiança de não ser escutado na base”, declarou.
O parlamentar mineiro disse que Temer deve escutar quem é da base aliada. “Não é escutar, com todo respeito, o (senador) Aécio (Neves), o (prefeito de São Paulo, João) Doria, o Imbassahy, que são do PSDB, que ainda não está firmado como base. Pode até escutá-los. Também”, disse. Segundo Montes, caso o Planalto não reorganize a base, “os parlamentares que estão sofrendo nas bases não vão para o sacrifício”, se os outros também não forem.
Como mostrou ontem o Estadão/Broadcast, o programa do PSDB aumentou a pressão do PMDB e do Centrão para que Temer troque o comando dos ministérios que estão nas mãos dos tucanos. A avaliação de parlamentares desses partidos é de que a propaganda na qual o partido critica o “presidencialismo de cooptação que vigora no Brasil” é a gota d’água que faltava para convencer o presidente a redistribuir os cargos dos tucanos.
O principal alvo do Centrão e do PMDB são os ministérios das Cidades e Secretaria de Governo. Cidades, pela capilaridade política. Secretaria de Governo, pelo poder de comandar a articulação política e o processo de indicações para cargos na administração federal. O Centrão já tem, inclusive, uma “proposta”: transferir Imbassahy para Cidades, desalojando o também tucano Bruno Araújo do posto. No lugar de Imbassahy, o grupo quer emplacar o líder do governo no Congresso Nacional, deputado André Moura (PSC-SE).