PF na cola

Lava Jato investiga negócios de Lobão Filho com o Grupo Bertin

A Polícia Federal investiga pagamentos feitos pelo Grupo Bertin – envolvido no suposto esquema de financiamento ilegal do PT executado pelo pecuarista José Carlos Bumlai – para o ex-senador Edison Lobão Filho (PMDB-MA), filho do ex-ministro de Minas e Energia peemedebista Edison Lobão.

A força-tarefa da Operação Lava Jato apreendeu num dos escritórios da Bertin documento de cobrança, liberação de pagamento e oito notas promissórias de R$ 1 milhão cada, com vencimentos entre agosto de 2014 e maio deste ano.

“Documentos apreendidos mencionam pagamentos a Edison Lobão Filho, ex-senador da República. Trata-se de análise preliminar e que demanda maior apuração acerca de indícios de possíveis ilicitudes”, registrou o delegado Filipe Hille Pace, da equipe da Lava Jato, em seu despacho de indiciamento do amigo do ex-presidente Lula preso desde o dia 24, alvo central da 21ª fase das operações, batizada de Passe Livre – referência ao acesso liberado que ele tinha no Planalto.

Descoberta acidental

No momento da prisão de Bumlai em Brasília, outra equipe da PF realizava buscas no escritório do Grupo Bertin, na zona sul de São Paulo. O objetivo principal era encontrar material relacionado ao empréstimo de R$ 12 milhões tomado pelo pecuarista do Banco Schahin, que teria sido usado para quitar dívidas do PT. O dinheiro circulou pelas contas do Grupo Bertin.

Num dos documentos apreendidos nas buscas apareceu a Santri Participações Societárias S.A., registrada em nome de Fernando Antônio Bertin e Natalino Bertin, como devedora notificada por Edison Lobão Filho. “Objeto da mora: 1ª, 2ª e 3ª parcelas do acordo particular de compra e venda de ações das empresas Curuá Energia S/A e Buriti Energia S/A, firmado entre Notificados e Notificante”, registra o documento, de 27 de outubro de 2014 – sete meses após ser deflagrada a fase ostensiva da Lava Jato.

A Buriti e a Curuá são duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), localizadas em Mato Grosso e Pará, respectivamente.

No mesmo endereço, foram apreendidas oito notas promissórias do Grupo Bertin para Lobão Filho, além de documentos das duas empresas de energia do Mato Grosso. Três deles são de agosto, setembro e outubro de 2015, todos com valor de R$ 1 milhão. Outras cinco notas são mensais emitidas entre janeiro e maio deste ano.

Autorização de pagamento

Em outro malote analisado pela PF entre o material aprendido nos endereços do Grupo Bertin, foram encontrada as autorizações dada pelos atuais conselheiros das empresas Curuá e Buriti, entre eles dois membros da família Bertin, para pagamentos para Lobão Filho e o empresário Filadelfo dos Reis Dias e para Fernando Bertin, datados de julho. São liberações de julho, agosto, setembro e outubro, sempre no mesmo valor.

Filadelfo Dias – dono do Grupo Dias, que tem sede em Cuiabá (MT) e atua nos setores de energia, mineração e saneamento – entrou em litígio em 2013 com o Grupo Bertin por uma disputa societária pelo comando da Mafe Participações, controladora das duas PCHs, a Buriti Energia, em Mato Grosso, e a Curuá Energia, no Pará. Nas liberações, Dias receberia o pagamento de R$ 450 mil. Outros R$ 450 mil iam para Bertin e R$ 150 mil para o filho do ex-ministro.

Defesas

O ex-senador Lobão Filho não foi localizado para comentar as investigações. O Grupo Dias informou que se pronunciaria, mas isso não ocorreu até o fechamento desta reportagem.

O criminalista Roberto Podval, que representa o Grupo Bertin, informou que “existiu de fato” uma sociedade com o ex-senador Lobão Filho em uma Pequena Central Hidrelétrica. Segundo Podval, o negócio “foi devidamente registrado e formalizado”, mas acabou desfeito.

“Houve uma discussão arbitral quando da separação da sociedade. A discussão acabou provocando a separação da sociedade em uma pequena central hidrelétrica. O distrato ocorreu por causa dessa discussão em torno de valores”, afirma o advogado. Podval observou, ainda, que todos os esclarecimentos serão apresentados em juízo.

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