Dez nomes que aparecem na lavanderia de dinheiro desmontada pela Operação Lava Jato foram denunciados ou investigados pela Polícia Federal por crime financeiro em sete escândalos recentes da política brasileira, entre eles o mensalão, a CPI dos Bingos e o Caso Banestado. Alvo central e coordenador do “engenhoso e sofisticado” esquema de lavagem de dinheiro usado para “esquentar” os recursos de caixa 2, oriundos, segundo a Polícia Federal, de corrupção e fraudes que atingiram a Petrobrás entre os anos de 2009 e 2014, o doleiro Alberto Youssef é o melhor exemplo de reincidente.
“Alberto Youssef possui envolvimento há mais de duas décadas com crimes (…). Já foi preso e condenado, descumpriu acordos de colaboração e voltou a atuar de maneira ainda mais grave, realizando evasão de aproximadamente meio bilhão de reais”, registrou o Ministério Público Federal, no pedido de manutenção da prisão dos réus da Lava Jato, em julho.
Os dez personagens de outros escândalos que voltam a aparecer na Lava Jato se ligam em rede com a atual lavanderia de Youssef por transações cambiais, sociedades ocultas e abertas e troca de informações e recursos, conforme revelaram as investigações da PF (veja quadro).
Seus negócios no câmbio negro começaram em 1992, conforme ele mesmo disse em 2004 ao juiz Sérgio Moro, nos autos da Operação Farol da Colina – que apurava o megaesquema de lavagem de dinheiro mantido por doleiros, revelado no Caso Banestado. “Realmente, Youssef foi um dos principais doleiros envolvidos no Caso Banestado, com evasão fraudulenta milionária de divisas por contas CC5 na praça de Foz do Iguaçu nos anos 90”, afirma o Ministério Público Federal. Por meio de três empresas (duas offshores fora do Brasil) movimentou mais de US$ 800 milhões. Com ele, aparecem dois outros doleiros: Antonio Claramunt, o Toninho Barcelona, e Raul Srour – que voltou a ser preso na Operação Lava Jato.
Preso e prestes a ser condenado por causa da Banestado, Youssef aceitou a delação premiada em 2004 – colaborou com a Justiça em troca de redução da pena. Admitiu a lavagem de US$ 25 milhões, os crimes contra o sistema financeiro e o desvio de recursos públicos. “Youssef se comprometeu inclusive a não realizar atividade delitiva sob pena de revogação do acordo”, anotam os procuradores. Dois anos depois, voltou a ter o nome envolvido no caso do Mensalão, mas não foi denunciado. “Verifica-se que a corretora Bônus Banval, era, em verdade, de Alberto Youssef”, afirmam.
Enivaldo Quadrado, que foi apontado como dono da corretora usada por Marcos Valério no mensalão, voltou a ser preso na Lava Jato, por ser um “funcionário de Youssef”.
Agora, dez anos após sua delação premiada, Youssef foi pego pela PF como chefe da organização que lavava dinheiro por meio de pelo menos 12 empresas abertas em nomes de “laranjas”, no Brasil e em países como Hong Kong, China, Holanda e Estados Unidos.
Usando oito dessas empresas, a Lava Jato aponta que Youssef simulou importações e enviou ao exterior US$ 44 milhões por meio de 3.649 operações de câmbio fraudulentas.
Youssef teria montado uma rede colarinho branco com três outros grupos de doleiros, associados a políticos, agentes públicos e empresários.
Para o Ministério Público, Youssef, “mesmo tendo feito termo de colaboração com a Justiça, (…) voltou a delinquir, indicando que transformou o crime em verdadeiro meio de vida”. Nos grampos da Lava Jato, o doleiro mencionou os estragos que a prisão em 2003 lhe causaram. “Eu tinha 150 milhões de dólares na conta, eu quebrei fiquei com 20 negativo, paguei todo mundo.”
O doleiro, “sem nunca ter uma atividade lícita”, como ressalta o MPF, ficou rico e estava negociando a compra de um jato quando foi preso, no dia 17 de março, em São Luís (MA), onde havia conseguido a liberação de um pagamento de precatório por parte do governo estadual para uma empresa investigada.
Padrões
Enquanto a lei de crimes financeiros é a mesma desde 1986, o esquema de lavagem de Youssef foi se modernizando. A atual especialidade da lavanderia do doleiro era criar empresas de fachada no Brasil e fora do País (as offshores) para simular importações, movimentando assim recursos ilegais por operações de câmbio autorizadas pelo Banco Central.
Ele montou a MO Consultoria e a Empreiteira Rigidez, que serviam para emitir notas fiscais de serviços nunca prestados. Outras, como o Labogen e a GFD enviavam os recursos para o exterior. A partir das chamadas contas de passagem o dinheiro seguia para outras. “O criminoso de colarinho branco faz uma análise de risco. O fato de ele não ir preso é um incentivo para o crime”, afirmou o procurador Rodrigo de Grandis, especialista em lavagem de dinheiro do Ministério Público Federal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.