'Peixe grande'

Lava Jato é pelo menos 20 vezes maior que o mensalão

O escândalo de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato é, em quantia de dinheiro desviado, pelo menos 20 vezes maior que o mensalão. Estimativas do Ministério Público Federal (MPF) sobre os dois casos apontam que o mensalão teria envolvido R$ 101,6 milhões, enquanto o “petrolão” já está em R$ 2,1 bilhões. O número de empresas e pessoas investigadas no episódio atual também é superior.

As avaliações do MPF sobre valores podem ser consideradas conservadoras se comparadas com outras fontes dos dois casos. Entre 2005 e 2006, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios levantou cerca de R$ 1,3 bilhão em recursos desviados pelo esquema de compra de apoio parlamentar durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula (PT). A antiga diretoria da Petrobras também chegou a calcular que a perda de ativos pelos episódios recentes de corrupção na estatal chegaria a R$ 88,6 bilhões.

A Lava Jato investiga no momento 150 pessoas, das quais 86 se tornaram alvo de denúncia criminal. A apuração atinge 232 empresas. A CPMI dos Correios, que investigou o mensalão no Congresso anos antes do julgamento do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), pediu 115 indiciamentos e investigou 44 empresas.

Ao final dos trabalhos sobre o mensalão, a Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou ao STF denúncia com 40 nomes, dos quais 25 receberam condenações. A denúncia de autoridades envolvidas no petrolão com foro no STF, como congressistas e ministros, deve ser formalizada pelo procurador-geral Rodrigo Janot até o final deste mês. A expectativa é de que a lista contenha entre 40 e 60 políticos.

Semelhanças

Relator da CPMI dos Correios, o deputado paranaense Osmar Serraglio (PMDB) diz que, apesar das diferenças de valores, pessoas e empresas investigadas, há “semelhanças explícitas” entre os dois casos. Para ele, o mensalão está no DNA do petrolão. “Com o fim do esquema do mensalão, os partidos e políticos envolvidos precisaram buscar outra forma de financiamento. A Lava Jato mostra os desvios da Petrobras como uma espécie de segundo caminho”, diz o peemedebista.

Outros dois paranaenses que participaram da CPMI citam coincidências nos escândalos. “O petrolão é um mensalão em águas profundas: a barganha, a promiscuidade nas relações políticas ainda mais acentuadas”, diz o senador Alvaro Dias (PSDB).

Ex-deputado federal pelo PT, Dr. Rosinha avalia que ambos os episódios têm na essência o caixa dois de campanhas eleitorais. “Todo grande desvio de contrato público, seja federal, estadual e municipal, tem por trás o financiamento dos políticos”, diz. “Mas não foram os petistas que inventaram isso. O erro foi ter entrado nesses esquemas ao invés de denunciá-los.” Serraglio diz que, uma década após a CPMI dos Correios, sente tristeza por ter acreditado que um esquema similar ao mensalão não se repetiria. “Achei que tinha sido tudo tão didático que nenhum partido entraria nesse mesmo caminho de volta.”

Com informações de André Gonçalves.

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